Cabelo ruivo desgrenhado, sardas no nariz, sempre jeans e t-shirt, sempre tudo desalinhado e desajeitado. Assim era ela!
Gel bem aplicado nos caracóis negros, dando-lhes sempre um aspecto molhado, olhos verdes e brilhantes dentes brancos, usava sempre camisa e sapatos de vários tipos, mas nunca sapatilhas. Assim era ele!
cruzavam-se todos os dias na redacção do jornal, onde ambos trabalhavam.
Ao invés do que seria de esperar, ela nunca tinha reparado nele, contrariamente a todas as mulheres. Já ele, achava-lhe imensa graça. O seu ar pouco cuidado destacava-a das outras mulheres, que apenas se preocupavam em estar bem e apresentáveis. Ouvira-a várias vezes responder a colegas desta forma «Eu valho pelo que sou e não pelo que visto! Não me preocupo com isso!». As colegas ficavam boquiabertas pois, perante o seu modo de vida, aquela mulher era quase uma aberração.
Essa diferença prendeu várias vezes a atenção dele.
Num daqueles dias em que a edição não está pronta e precisa de sair para as bancas no dia seguinte, num daqueles dias em que todos fazem tudo para salvar o número, cruzaram-se por acaso no bar. Ele parara para beber um café enquanto ela estava embrenhada num monte de jornais do arquivo, procurando incessantemente algo que pudesse recuperar e usar de novo. Esforçava-se ao máximo sempre, não porque precisasse de provar o que quer que fosse à directora do jornal, pois esta confiava completamente no seu trabalho e conhecia a sua qualidade, dava sempre o seu máximo porque aquela era a sua vida.
Ela tinha família e amigos, mas as suas grandes vitórias eram conseguidas a nível profissional. Adorava o que fazia e, por isso, empenhava-se ao máximo em cada artigo, em cada reportagem, em cada entrevista, em cada linha que escrevesse. Desde criança que sonhava com aquele futuro e todo o seu percurso decorrera tendo como meta aquilo.
Enquanto saboreava o seu cimbalino quente, olhava-a encantado. Ela, mais uma vez, nem reparara na sua presença.
Aproximou-se da mesa onde ela, atarefadamente, buscava a solução daquele problema e aconselhou «Não devia preocupar-se tanto!». Ela levantou lentamente o olhar e voltou, depois, a mergulhar naquele imenso monte de papel. «Alguém há-se encontrar solução! Porque havemos de ser nós a salvar o mundo quando há tanta gente à nossa volta que pode fazê-lo?» continuou ele para espanto dela. «Se toda a gente pensasse como o senhor, todos ficavam de braços cruzados e o mundo estagnava, não lhe parece?» questionou-o, mostrando a sua forte personalidade. Ele, ao vê-la olhar de novo para as folhas que tinha em cima da mesa, desistiu e saiu.
Ao fim do dia, já a noite bailava alto, a directora encontrava-se na sala, à espera que todos se reunissem. Começou o seu discurso no qual se destacavam as seguintes palavras «Felicito-te particularmente a ti, minha querida, pelo esforço e dedicação para connosco e com este jornal.» ditas com o olhar fixo nela. Ela corou. Terminada a reunião de agradecimentos ele aproximou-se da ruiva congratulando-a «Parabéns! Valeu bem todo o seu esforço! Gostava d poder falar consigo, noutras circunstâncias. Achaque podíamos tomar um café?». «A cafeína tira-me o sono.» disparou de forma seca. «Podia beber um descafeínado ou um sumo de laranja...» insistiu desesperado. «Quero que saiba que eu não sou mais uma daquelas que morre de paixões por si, eu não sou uma das parvinhas que se apruma sempre que passa ou se derrete sempre que cruza um olhar consigo. Eu não sou assim! Pensa que por ter todas atrás de si pode fazer delas o que quer? Acha que vou cair nos seus braços? Acha que pode dormir comigo e no dia seguinte deixar-me um bilhete na cama a dizer que foi óptimo mas que não se vai repetir? Acha que o facto de eu não me produzir tanto quanto as outras, não ligar tanto a coisas fúteis faz de mim burra? Acha que não percebo o que quer de mim e de todas? Eu não sou parva. Eu não sou dessas! Eu não sou assim!» virou-lhe as costas e saiu.
«E eu não sou como tu imaginas...» sussurrou.
E aqui fica a história de um homem apaixonado, sem vícios e sem mau carácter, que nasceu com a sorte de ser bonito e por isso com uma atracção especial para os boatos. Boatos estes que acabaram por destruir sonhos. E aqui fica a história de uma mulher sóbria demais, que se rendia às evidências e por não se deixar levar pelo coração e viver exclusivamente para o trabalho, cria uma barreira à sua volta que a impede de amar.

Comentários

Anónimo disse…
Fiquei colada ao ecra a ler este texto, ta tao bonito a serio *.*

Ass:Bia
Ana Marques disse…
Está tão lindo x)
Os teus textos começam a tornar-se viciantes Catarina *-*

Beijinhos
Anónimo disse…
És uma escritorazinha fantástica.
Adorei (:
beijinho, maria
Anónimo disse…
és linda. t
Alexandra Monteiro disse…
Está mesmo muito bom! Espero que um dia encontres um homem desses, bonito e com bom caráter, mereces!