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A mostrar mensagens de 2013

Pão na sopa, como antigamente

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Inspirado em http://p3.publico.pt/actualidade/sociedade/9796/somos-geracao-que-faz-um-prato-quotgourmetquot-com-esparguete-e-salsichas   Hoje cheguei à conclusão que a crise faz mal aos olhos… Há uns tempos, o meu dinheiro sobrava. Podia ir ao McDonald’s umas quantas vezes no mês, não tinha de trazer comida de casa para os intervalos e não precisava de almoçar todos os dias na cantina, não precisava de usar a mesma roupa do ano passado. Quando ia às compras e pegava em algo mais caro, a minha mãe franzia a testa, mas acabava por comprar com a célebre frase: nos próximos tempos não me peças mais nada . Aquela frase que nunca se concretizava. Meia volta a minha mãe dizia: não sei o que fazer para o jantar, e se fossemos jantar fora? E íamos. Ao sábado, tomávamos o pequeno almoço no café ou, ao domingo, lanchávamos na pastelaria. Sempre que íamos ao shopping trazíamos coisas que não precisávamos, no supermercado as guloseimas saltavam para o carrinho. O aquecimento ligava-se

corações arquitetónicos

Será possível concebermos a nossa vida como uma cidade? Uma cidade em que cada edifício tem uma história para contar, edifícios podres de mau génio, edifícios caídos de sofrimento, edifícios restaurados por fora e corroídos por dentro, edifícios com mau aspecto mas um coração enorme e de ouro, edifícios mais importantes, edifícios que só estão para ocupar espaço, edifícios mais perto, edifícios mais longe, edifícios que fazem parte do nosso condomínio… E nós? Que somos nós nesta cidade? Por mim seremos duas casas geminadas, simétricas, com a mesma entrada e núcleos iguais. Pouco importa quem mais nos habita porque já nos habitamos um ao outro. Quando tocarem na minha campainha, tu também ouves e quando o teu alarme soar, eu hei-de acordar como se fosse o meu. Vens ser isto comigo?
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(em consonância com  http://guarnecer.blogspot.pt/2013/11/omega-alfa.html ) E beijei-o! E assim terminou esta nossa brincadeira. Obrigada ao Guarnecer pelo desafio e por tudo o resto!

Borboletas e o mundo inteiro

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(em resposta a http://guarnecer.blogspot.pt/2013/11/constelacoes.html ) Agora percebo as pessoas que falam de borboletas no estômago. E percebo ainda melhor aquelas que dizem: o meu estômago não tem borboletas, tem um zoo inteiro. Por muito grosseiro que isto possa parecer. Nunca um corpo me pareceu tão próximo do meu como o teu. Por momentos tive medo que se fundissem, depois percebi que se isso acontecesse era o melhor do mundo e que não havia nada a recear. Percebi que há instantes que deviam durar para sempre e que só não duram porque o resto do mundo perderia importância. Percebi que nenhuma estrela brilha mais que esses teus olhos. E percebi que me podia perder neles a cada segundo. Percebi que eu e tu podemos inverter papéis e ter o mesmo papel sem sairmos de nós próprios e sabes porquê? Porque quando somos um só, somos muito mais que dois.

Poder da expressão

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(em resposta a http://guarnecer.blogspot.pt/2013/11/saborear.html ) Eu precisava mesmo de saber de que era feito este nosso NÓS. Mas a tua resposta era tão válida que não tive coragem de repetir a pergunta. Pus-me a pensar e tu deves ter percebido, vi-te franzir a testa. Há mil anos que me conheço e sei do que sou feita, mas desde que me relaciono com pessoas que percebi que nenhuma delas o sabe. Muito poucas percebem o que me move e raramente encontro alguém que saiba aquilo que penso ou sinto sem que eu lhes diga. Já disse a muitas que sou feita da matéria dos sonhos (como defendia Shakespeare), mas acho que isso ainda as deixou mais baralhadas. Acho que hoje toda a gente é demasiado realista, toda a gente tem demasiado os pés no chão. Sim, vivemos tempos difíceis, eu também sei isso, mas não o terão sido todos? E isso é razão para deixarmos de sonhar? De acreditar nas nossas convicções, naquilo que de melhor vemos no mundo, na vida e nas pessoas? Isto sou eu a baralhar qu

O outro lado

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(em resposta a http://guarnecer.blogspot.pt/2013/11/os-dias-vao-passando-o-tempo-vai.html ) Olhei o relógio vezes sem conta, olhei em redor duas vezes mais, algumas pessoas devem ter achado que era psicopata de tanto que as observava. Nenhum olhar era o teu, nenhum rosto era o teu, ninguém era como tu, tu não estavas, tu não vinhas. E nesse momento acho que te senti raiva! E raiva de mim também, por ter acreditado. E depois arrependi-me solenemente de não ter trazido uma caneta para riscar todos aqueles papéis. Peguei neles, arranquei-os, amachuquei-os, mas guardei-os… Passaram-me mil e uma coisas pela cabeça. Estava chateada, deveras chateada e nem sabia que pensar. Apanhei o primeiro autocarro que apareceu, sem sequer me aperceber qual era, para onde ia. Entrei de cabeça baixa, desejei uma boa noite ao condutor (nem quando estou num dia mau consigo deixar de o fazer, as pessoas merecem a nossa consideração) e mantive-me de pé. De repente senti uma mão no meu ombro e ache

Antevisão (ou não)

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(resposta a http://guarnecer.blogspot.pt/2013/11/numa-noite-ja-noite-onde-cidade-se.html ) “Vem, vem connosco!” – insistiam elas ao telemóvel. Não, hoje não me apetece ir dançar (e não, não estou doente) mas hoje queria outra coisa. Apetecia-me ficar no sofá a ver um filme e a comer bolachas torradas com nutella ou então ir a uma esplanada à beira rio beber um chá quente. Não fiz uma coisa nem outra, mas também não fui dançar com elas. Quando cheguei a casa, ao fim da tarde, tomei um banho, comi qualquer coisa, calcei umas sapatilhas e saí. Já tinha escolhido o meu plano: um passeio a pé, pela cidade, à noite. Gosto das luzes, a cidade já está enfeitada para o Natal, apesar de ainda não estarmos a meio de Novembro (quanto custará tudo isto?) e o passeio torna-se mesmo agradável, mesmo estando sozinha. A solidão assusta-me a cidade, à noite, também. Mas hoje não! Estou tranquila e, se calhar, estava mesmo a precisar deste tempo para mim. Passo pelo centro comercial e vejo a q

Provado

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(resposta a http://guarnecer.blogspot.pt/2013/11/a-prova.html ) Tenho andado atarefada nos últimos dias. Caixotes por todo o lado. Tenho a vida empacotada. Com todo o trabalho que tenho tido a solução é ir arrumando tudo aos poucos, por ordem de prioridades: primeiro a roupa e os sapatos, depois os livros e depois o resto. Sim, neste momento a minha casa só não parece um armazém porque tem três estantes de livros na sala. Estava a precisar disto, de conquistar um novo espaço para mim. A casa dos meus pais traz-me imensas recordações e sou muito feliz lá, mas aquela cama de pessoa e meia (que raio é isto de “pessoa e meia”?) com colchas aos bonecos já fartava. Sim, nós mudamos. E temos de obrigar a vida a mudar connosco. Esta foi a minha mudança. Se a minha mãe visse o estado em que está esta casa diria, como sempre que deixo algo fora do sítio, que para mim está sempre tudo bem, que nada me incomoda… Não é bem isso. É só que tenho prioridades e desencaixotar bibelôs e toal

Vista Turva

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(em resposta a  http://guarnecer.blogspot.pt/2013/11/ela-mas-quem-era-ela-uma.html ) Olá, sou eu… Sim, tu sabes a que eu me refiro, ao eu que cruzou o olhar contigo de baixo daquela chuva toda, que pensou durante momentos que serias uma ilusão. Ou provavelmente és mesmo uma ilusão e eu acabei de ser enganado por um simples velhote… Gostava que provasses que estou errado… Espero uma resposta tua… Até já! Ali estava eu, boquiaberta. Eu ia só confirmar o horário do meu autocarro e eis que sou surpreendida por isto. Chamem-lhe curiosidade feminina, sexto sentido, o que quiserem, mas não consegui deixar de ler. E assim que li, não tive a menor dúvida que era para mim. Mas depois os meus pensamentos ficaram confusos. Sim, é para mim! Ou talvez não seja. Se calhar não passa de uma brincadeira de miúdos. Aposto que ele nem me viu. E se não for? Se for a sério? Vou responder-lhe, que nem tonta, com um bilhete na paragem do autocarro? Foi estranho aquele momento em que nos vimos…

(11) De corpo e alma

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Amanhã vou buscar-te à hora de sempre. Desces com os sacos do lixo e fazes-me sinal para esperar uns minutos. Quando entras no carro dás-me aquele teu beijo curto, quente e doce. (Fico encantada com esta nova versão de homem. Deixou de ser mau um homem cuidar de si, cuidar dos filhos, cuidar da casa… E eu gosto muito disso. Não sei se gostava de ti se cheirasses a cavalo e comesses com as mãos. Provavelmente não, ou pelo menos não da mesma forma. Gosto que sejas elegante e tenhas boas maneiras. Gosto do teu cavalheirismo. E gosto que gostes de mim, mesmo quando não tenho as unhas brilhantemente pintadas ou o cabelo perfeitamente arranjado. Às vezes acho que exijo de ti uma medida que não dou em troca. Mas depois penso que não, que somos a medida um do outro e que o somos na medida certa. Ter dúvidas e incertezas é cliché , conseguir superá-las com a rapidez com que eu o faço é obra tua. É feito da tua serenidade e da tua forma de estar na vida, dessa tranquilidade que em

(10) Dias não são dias

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Amanhã vou buscar-te à hora de sempre. Desces com os sacos do lixo e fazes-me sinal para esperar uns minutos. Quando entras no carro dás-me aquele teu beijo curto, quente e doce. Levo-te ao café do costume, os mesmos 12 minutos de caminho, a mesma música no rádio, os mesmos risos, perguntas e lamentações. Nesse café, ah esse café, com o lugar ao lado do carro cinzento abandonado sempre à nossa espera, as pessoas já me eram familiares, aquele sumo de pêssego e o vento que corre na janela do canto, sempre aberta resfriando o ar. No final, o mesmo barulho da sucção das palhinhas, o sumo acabou, hora de viajar 12 minutos até ao local onde te deixo, curta, quente e doce a despedida, vejo-te entrar com o vestido longo a esvoaçar com o vento, o cabelo timidamente amarrado pelo puxo vermelho. Ao entrares espero que a luz se apague e sigo o meu caminho, longo, frio e amargo, no silêncio ensurdecedor da música que já não é a mesma. Nasce um novo dia, desces com o saco do lixo,  já nem p

(9) O perfume

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Amanhã vou buscar-te à hora de sempre. Desces com os sacos do lixo e fazes-me sinal para esperar uns minutos. Quando entras no carro dás-me aquele teu beijo curto, quente e doce. É assim que me lembro de ti. Mesmo com o teu ar cansado, de sempre, o dia ficava bem melhor quando me ligavas para ir ter contigo. Sorria para o telemóvel feito um idiota porque as tuas mensagens acabavam com um "Não demores. O meu coração quer reacender a chama que ficou sem força quando, ontem, me deste o último beijo de boa noite. Preciso de ti". Sentia-me poderoso. Tinha em mim um sentimento que me consumia e que me deixava, permanentemente, feliz. Naquela noite, enquanto descias, tentava pensar em algo diferente, marcante. Queria levar-te ao teu lugar preferido que sempre me havíeis contado mas era impossível. Quem era eu que nem um simples desejo conseguia concretizar pela mulher que me fez acreditar que os sonhos são realidade basta querermos? Os minutos passaram. Tu chegaste. Esta

(8) Nunca me esqueças - o nosso amor é soberano

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“Amanhã vou buscar-te à hora de sempre. Desces com os sacos do lixo e fazes-me sinal para esperar uns minutos. Quando entras no carro dás-me aquele teu beijo curto, quente e doce.” Sinto que todos os momentos têm passado tão rapidamente … o que me torna incapaz de ter tempo para reflectir sobre eles, saboreá-los. Ela é, sem dúvida, a rapariga mais bonita que já vi! Estávamos em pleno mês de Maio. Eram três horas da tarde e o sol iluminava o rosto dela em plena avenida, enquanto esperava pelo autocarro sentada na paragem. Tinha um gelado de limão na mão e, quando os nossos olhares se cruzaram, ficamos parados no tempo, olhando-nos, como se não existisse mais nada à nossa volta. Nunca a tinha visto por ali. De repente, reticente e fascinado, soltei um breve “olá”. Ela sorriu, envergonhada, e voltou o rosto para o chão numa tentativa de arranjar um refúgio qualquer que a desviasse de todo aquele embaraço. Mas, de facto, a única coisa que ela encontrou para se escapar foi um

(7) Um dia, em Lisboa, amor

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- Amanhã vou buscar-te à hora de sempre. Desces com os sacos do lixo e fazes-me sinal para esperar uns minutos. Quando entras no carro dás-me aquele teu beijo curto, quente e doce. A magia começa sempre no alto da rua quando ela está decidida a sair de casa. A personalidade como ela desfila ao longo da calçada. O movimento de ancas. Pernas a um ritmo pausado e determinado. Perna esquerda. Perna direita. Esquerda… Um corpo aprumado. Esculpido por deuses e invejados por deusas. Feito com régua e esquadro. Milimetro por milimetro. Lá vem ela a meio da rua. O senhor da mercearia fica arregalado quando ela passa. Os clientes param. Olham. De cima a baixo. O seu rasto é inconfundível. Ninguém consegue ficar indiferente. Coloca os sacos do lixo no caixote. Sacode as mãos. Ajeita novamente o cabelo. Mesmo no final da calçada, avista o carro. Larga-se em felicidade! Solta um sorriso e corre! Parecia tão real até entrar no carro dele. Sim, dele! Namora o pior rapaz daqui da cidade…

(6) Ver-te a ir

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"Amanhã vou buscar-te à hora de sempre. Desces com os sacos do lixo e fazes-me sinal para esperar uns minutos. Quando entras no carro dás-me aquele teu beijo curto, quente e doce." Foi assim que acabou a nossa “última” noite. Por alguma razão, no dia a seguir não apareceste à hora de sempre e não pude dar-te o tão desejado beijo. Procurei mil e uma explicações, fiz filmes e criei cenários na minha mente que me levavam sempre a conclusões diferentes. Ainda hoje não percebo o que aconteceu, o que te levou a me abandonares desta forma, deixares-me desamparada, a lidar com todos os problemas do mundo sozinha. Ainda hoje me questiono em que falhei, pergunto-me o porquê de não ser suficiente. Foram dias de desespero e julguei que nunca seria capaz de superar a tua perda, o teu afastamento, o facto de me teres abandonado. Isto, até ao dia em que te vi com outro alguém que não eu e percebi que na verdade, tudo aquilo que eu julguei que era direccionado a mim, era o espelho

(5) Outra vez amor

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Amanhã vou buscar-te à hora de sempre. Desces com os sacos do lixo e fazes-me sinal para esperar uns minutos. Quando entras no carro dás-me aquele teu beijo curto, quente e doce. Arranco aos solavancos porque gosto que pegues comigo e digas que não sei conduzir. No fundo sabes que conduzo bem melhor que tu, mesmo sendo mulher. Mas eu sei que os homens odeiam ter o ego ferido e embora use o meu sorriso mais cínico, só quero que digas que não gostas que te faça cara de má, e por dentro, rio-me às gargalhadas. Nem preciso de te perguntar onde vamos, é segunda-feira e o destino é sempre o mesmo. O nosso café, na nossa mesa; dois cafés e um copo de água, por favor. Contas-me o teu dia, a boa acção que fizeste ao fazer a velhinha da loja de artesanato sorrir, e o quanto te irritaste com aquele rapazinho que se meteu no teu caminho mal educado e resmungão. Ouço-te com atenção. Sorrio, rio-me, e no fim, conto-te o meu dia. Adoro a forma como me fintas com o olhar sempre que falo noutro

(4) Um até já

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Amanhã vou buscar-te à hora de sempre. Desces com os sacos do lixo e fazes-me sinal para esperar uns minutos. Quando entras no carro dás-me aquele teu beijo curto, quente e doce. Era esta a nossa “rotina” de quase todos os dias. Mas era uma rotina agradável em que o significado aborrecido da palavra em nada correspondia à realidade. Seguimos em direcção à praia para aquele que seria um dos últimos momentos que viveríamos juntos, mal eu sabia. Sempre gostaste de um bom passeio à beira mar ao final da tarde, será que te podes recordar? Que é verdade que existe vida depois da…tu sabes? Bem, de qualquer forma, senti-te mais cansada que o habitual naquele dia. Lembro-me como se fosse hoje, mesmo já tendo passado vinte e cinco anos desde que partiste. Caminhámos apenas durante cinco minutos até me pedires para te sentares, que precisavas de descansar. Já há alguns meses que te sentia em baixo, mas isso tinha-se tornado mais evidente nas últimas semanas. Dizias-me que era do trabalho nov

(3) Natas e Morangos

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Amanhã vou buscar-te à hora de sempre. Desces com os sacos do lixo e fazes-me sinal para esperar uns minutos. Quando entras no carro dás-me aquele teu beijo curto, quente e doce. Mas hoje, depois do jantar, tudo será diferente, não sabes o que te espera. Pergunto-me se será a opção correta, pergunto-me qual será a tua reacção, e quando faço estas perguntas desejava fechar os olhos e ver o futuro para saber se estou a agir da melhor maneira. Entretanto, no meio destes pensamentos, já entraste dentro do carro, fico pasmado… Com a luz do luar ainda ficas mais bonita, e eu a pensar que isso era impossível! Perguntas-me onde vamos e dizes que precisamos de conversar, reparo que os teus olhos mostram preocupação, ou será só cansaço? Tenho reparado que tens trabalhado imenso, que já não dormes as oito horas do teu sono de beleza que tanto adoras… Sim, é um olhar cansado, não vale a pena inventar! Digo-te que vamos jantar fora, fiz uma reserva naquele restaurante italiano que existe na B

(2) Vida Agendada

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Amanhã vou buscar-te à hora de sempre. Desces com os sacos do lixo e fazes-me sinal para esperar uns minutos. Quando entras no carro dás-me aquele teu beijo curto, quente e doce. Arrancamos, mas não para o sítio de sempre. Hoje vai ser diferente, hoje precisa de ser diferente. A rotina já pesa e o amor precisa de lenha por onde arder, certo? A viagem continua e apesar do beijo ser o mesmo, o caminho em nada se parece ao beijo. Existe um estigma no ar, um silêncio pesado que corta as palavras em meias palavras e, assim, ficamos por meias palavras e coisas por dizer. Queria dizer que não gosto da preguiça rotineira em que algo tão intenso se tornou. É intenso, sim. Mas só das 18 às 22 horas de segunda e das 16 às 20 horas de sexta. E hoje, feliz ou infelizmente, é um desses dias. Queria poder dizer-te que não quero ser uma marcação de agenda, não quero ficar entre o relatório do patrão e a manicura. Mas, não seria isso fugir à rotina? Sim, seria. Pois a nossa relação diminui-se a

(1) O último adeus

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Amanhã vou buscar-te à hora de sempre. Desces com os sacos do lixo e fazes-me sinal para esperar uns minutos. Quando entras no carro dás-me aquele teu beijo curto, quente e doce. Sabia lá eu que iria ser a nossa última viagem. Mal entraste no carro vi que estavas com cara de caso. Não ia ser uma viagem fácil. Pus o carro a andar… Passámos pelo jardim do costume, e dissemos adeus à senhora da frutaria, que sempre nos sorriu. Mesmo sem dentes aquela velhota sabia o nosso destino. Ela sabia que era a última vez. Por coincidência, ou não, íamos vestidos de igual modo, camisola azul e calças pretas. O sol estava a pousar no seu sono profundo, a lua já aparecera no céu, um aroma de pão quente pairava no ar, enquanto passávamos pela praça da vila. Seguimos viagem numa estrada com muitas curvas, e quem sabe monstros… A nossa viagem tinha um significado especial. Aquela música que nos uniu tocava sem parar, e os meus lábios trauteavam a letra. Nunca pensei em te beijar já que era errado

Be my voice, write the end!

Como tantas vezes faço, peguei na caneta e escrevi. Escrevi um parágrafo e uma espécie de bloqueio mental fez-me parar por ali. Fiz como de todas as outras vezes que isso me aconteceu: parei de escrever e guardei o papel. Mas, confesso, tinha mesmo vontade de terminar aquele texto. Não me perguntem porquê, mas tinha gostado daquele parágrafo. Nos dias seguintes, bailou na minha mente.  Numa noite quente e desocupada de Verão surgiu em mim uma ideia. Tenho uns quantos amigos que são tão apaixonados por letras como eu e, por isso, pedi-lhes que pegassem naquele meu início e o continuassem, da maneira que achassem melhor. Expectava receber textos completamente diferentes uns dos outros e consegui e devo dizer-vos (aos meus amigos que alinharam na brincadeira) que alguns escrevem ainda melhor do que eu imaginava.  Tenho agora uma pequena coletânea de textos que vou publicar gradualmente. A ordem será aleatória, à exceção do meu, que será o último porque acho que devo ceder os lugares

"No meu tempo..."

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Das sensações mais estranhas que experimento: amar com os olhos e não saber traduzir em palavras. Gostava de vos poder transmitir tudo o que vejo daqui, mas sempre que o digo ou escrevo, não se assemelha àquilo que na realidade é. Vejo as luzes da cidade ao longe, mas é mais que isso; vejo o meu futuro, no meio das luzes de uma cidade que nada terá de igual a esta. Vejo as árvores altas e próximas em frente, mas é mais que isso; vejo as saudades que vou ter da serenidade deste sítio, os lugares que vou ter que deixar. Vejo a minha rua, já aqui, mas esta eu não vou deixar! Trarei sempre comigo o cheiro a Inverno, a terra molhada quando os anjos do céu choram. Levarei as cicatrizes nos joelhos de quando a estrada era revestida a calçada. Recordarei sempre o azul deste céu, que é só dele, e as formas das nuvens que desenhei deitada no terraço de cimento. Não esqueço o balancé de ferro, feito por encomenda, vermelho em tempos, que agora já quase perdeu a cor. Levo tudo, até ao fim

Vai à tua vida!

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Bom dia história por resolver. Como te sentes? Estás como sempre, não é? Pujante! És tão previsível, estás a perder qualidades. Já sei quando vais aparecer para me toldar os pensamentos e as certezas. Eu sei que às vezes te chamo para preencher vazios, mas acho mesmo que desta vez não o fiz. Chamei-te? Se não, para que vieste? Já não chega de me baralhares as ideias? Já não andamos nisto há tempo suficiente? Bom dia história por resolver. Seja bem (mal) aparecida! Há quanto tempo não te via? Confesso que não tive grandes saudades tuas. Fazes-me sempre mais mal que bem. Na maioria das vezes, trazes novas histórias que, tal como tu, vão ficar por resolver. Mas não te preocupes, ninguém te tira o pódio, hás-de sempre ser a mais mal resolvida. Bom dia história por resolver. Sabes? Acho que já fomos mais amigas. Já estive mais longe de te matar. Meia volta ainda te bato, mas tu és ruim que nem cobras e tens vidas que nem gatos. Talvez tivesses tido um bom final se me tivesses

Capitão Romance

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Antigamente ainda me mandavas as saudades por correio. Letra redondinha, manuscrita com sabor. E no fim esboçavas um beijo com o teu batom. Um envelope vulgar só para ninguém descobrir. Ninguém podia saber que o carteiro, dentro da sua malinha de cabedal, transportava o teu coração a transbordar de saudades deste outro coração sempre cheio de ti. Era tão bom quando o papel trazia o teu cheiro. Eu conseguia ouvir a tua voz a cada palavra que lia. Conseguia visualizar o teu sorriso ao escrever cada linha… E sorria também. E depois escrevia-te de volta. Transpunha para o papel cada sílaba do meu amor por ti e sabia que o recebias inteiro, intacto e que o guardavas como ninguém. Tinha uma letra feia, nunca me preocupei em aperfeiçoá-la, era algo meu e tu nunca me quiseste subtrair de mim próprio. Acho que era isso que tínhamos de tão inigualável: a capacidade quase inata de respeito pelas características e convicções do outro. Nunca me pediste que mudasse por ti, nem eu p