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A mostrar mensagens de julho, 2013

(10) Dias não são dias

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Amanhã vou buscar-te à hora de sempre. Desces com os sacos do lixo e fazes-me sinal para esperar uns minutos. Quando entras no carro dás-me aquele teu beijo curto, quente e doce. Levo-te ao café do costume, os mesmos 12 minutos de caminho, a mesma música no rádio, os mesmos risos, perguntas e lamentações. Nesse café, ah esse café, com o lugar ao lado do carro cinzento abandonado sempre à nossa espera, as pessoas já me eram familiares, aquele sumo de pêssego e o vento que corre na janela do canto, sempre aberta resfriando o ar. No final, o mesmo barulho da sucção das palhinhas, o sumo acabou, hora de viajar 12 minutos até ao local onde te deixo, curta, quente e doce a despedida, vejo-te entrar com o vestido longo a esvoaçar com o vento, o cabelo timidamente amarrado pelo puxo vermelho. Ao entrares espero que a luz se apague e sigo o meu caminho, longo, frio e amargo, no silêncio ensurdecedor da música que já não é a mesma. Nasce um novo dia, desces com o saco do lixo,  já nem p

(9) O perfume

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Amanhã vou buscar-te à hora de sempre. Desces com os sacos do lixo e fazes-me sinal para esperar uns minutos. Quando entras no carro dás-me aquele teu beijo curto, quente e doce. É assim que me lembro de ti. Mesmo com o teu ar cansado, de sempre, o dia ficava bem melhor quando me ligavas para ir ter contigo. Sorria para o telemóvel feito um idiota porque as tuas mensagens acabavam com um "Não demores. O meu coração quer reacender a chama que ficou sem força quando, ontem, me deste o último beijo de boa noite. Preciso de ti". Sentia-me poderoso. Tinha em mim um sentimento que me consumia e que me deixava, permanentemente, feliz. Naquela noite, enquanto descias, tentava pensar em algo diferente, marcante. Queria levar-te ao teu lugar preferido que sempre me havíeis contado mas era impossível. Quem era eu que nem um simples desejo conseguia concretizar pela mulher que me fez acreditar que os sonhos são realidade basta querermos? Os minutos passaram. Tu chegaste. Esta

(8) Nunca me esqueças - o nosso amor é soberano

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“Amanhã vou buscar-te à hora de sempre. Desces com os sacos do lixo e fazes-me sinal para esperar uns minutos. Quando entras no carro dás-me aquele teu beijo curto, quente e doce.” Sinto que todos os momentos têm passado tão rapidamente … o que me torna incapaz de ter tempo para reflectir sobre eles, saboreá-los. Ela é, sem dúvida, a rapariga mais bonita que já vi! Estávamos em pleno mês de Maio. Eram três horas da tarde e o sol iluminava o rosto dela em plena avenida, enquanto esperava pelo autocarro sentada na paragem. Tinha um gelado de limão na mão e, quando os nossos olhares se cruzaram, ficamos parados no tempo, olhando-nos, como se não existisse mais nada à nossa volta. Nunca a tinha visto por ali. De repente, reticente e fascinado, soltei um breve “olá”. Ela sorriu, envergonhada, e voltou o rosto para o chão numa tentativa de arranjar um refúgio qualquer que a desviasse de todo aquele embaraço. Mas, de facto, a única coisa que ela encontrou para se escapar foi um

(7) Um dia, em Lisboa, amor

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- Amanhã vou buscar-te à hora de sempre. Desces com os sacos do lixo e fazes-me sinal para esperar uns minutos. Quando entras no carro dás-me aquele teu beijo curto, quente e doce. A magia começa sempre no alto da rua quando ela está decidida a sair de casa. A personalidade como ela desfila ao longo da calçada. O movimento de ancas. Pernas a um ritmo pausado e determinado. Perna esquerda. Perna direita. Esquerda… Um corpo aprumado. Esculpido por deuses e invejados por deusas. Feito com régua e esquadro. Milimetro por milimetro. Lá vem ela a meio da rua. O senhor da mercearia fica arregalado quando ela passa. Os clientes param. Olham. De cima a baixo. O seu rasto é inconfundível. Ninguém consegue ficar indiferente. Coloca os sacos do lixo no caixote. Sacode as mãos. Ajeita novamente o cabelo. Mesmo no final da calçada, avista o carro. Larga-se em felicidade! Solta um sorriso e corre! Parecia tão real até entrar no carro dele. Sim, dele! Namora o pior rapaz daqui da cidade…

(6) Ver-te a ir

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"Amanhã vou buscar-te à hora de sempre. Desces com os sacos do lixo e fazes-me sinal para esperar uns minutos. Quando entras no carro dás-me aquele teu beijo curto, quente e doce." Foi assim que acabou a nossa “última” noite. Por alguma razão, no dia a seguir não apareceste à hora de sempre e não pude dar-te o tão desejado beijo. Procurei mil e uma explicações, fiz filmes e criei cenários na minha mente que me levavam sempre a conclusões diferentes. Ainda hoje não percebo o que aconteceu, o que te levou a me abandonares desta forma, deixares-me desamparada, a lidar com todos os problemas do mundo sozinha. Ainda hoje me questiono em que falhei, pergunto-me o porquê de não ser suficiente. Foram dias de desespero e julguei que nunca seria capaz de superar a tua perda, o teu afastamento, o facto de me teres abandonado. Isto, até ao dia em que te vi com outro alguém que não eu e percebi que na verdade, tudo aquilo que eu julguei que era direccionado a mim, era o espelho

(5) Outra vez amor

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Amanhã vou buscar-te à hora de sempre. Desces com os sacos do lixo e fazes-me sinal para esperar uns minutos. Quando entras no carro dás-me aquele teu beijo curto, quente e doce. Arranco aos solavancos porque gosto que pegues comigo e digas que não sei conduzir. No fundo sabes que conduzo bem melhor que tu, mesmo sendo mulher. Mas eu sei que os homens odeiam ter o ego ferido e embora use o meu sorriso mais cínico, só quero que digas que não gostas que te faça cara de má, e por dentro, rio-me às gargalhadas. Nem preciso de te perguntar onde vamos, é segunda-feira e o destino é sempre o mesmo. O nosso café, na nossa mesa; dois cafés e um copo de água, por favor. Contas-me o teu dia, a boa acção que fizeste ao fazer a velhinha da loja de artesanato sorrir, e o quanto te irritaste com aquele rapazinho que se meteu no teu caminho mal educado e resmungão. Ouço-te com atenção. Sorrio, rio-me, e no fim, conto-te o meu dia. Adoro a forma como me fintas com o olhar sempre que falo noutro

(4) Um até já

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Amanhã vou buscar-te à hora de sempre. Desces com os sacos do lixo e fazes-me sinal para esperar uns minutos. Quando entras no carro dás-me aquele teu beijo curto, quente e doce. Era esta a nossa “rotina” de quase todos os dias. Mas era uma rotina agradável em que o significado aborrecido da palavra em nada correspondia à realidade. Seguimos em direcção à praia para aquele que seria um dos últimos momentos que viveríamos juntos, mal eu sabia. Sempre gostaste de um bom passeio à beira mar ao final da tarde, será que te podes recordar? Que é verdade que existe vida depois da…tu sabes? Bem, de qualquer forma, senti-te mais cansada que o habitual naquele dia. Lembro-me como se fosse hoje, mesmo já tendo passado vinte e cinco anos desde que partiste. Caminhámos apenas durante cinco minutos até me pedires para te sentares, que precisavas de descansar. Já há alguns meses que te sentia em baixo, mas isso tinha-se tornado mais evidente nas últimas semanas. Dizias-me que era do trabalho nov

(3) Natas e Morangos

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Amanhã vou buscar-te à hora de sempre. Desces com os sacos do lixo e fazes-me sinal para esperar uns minutos. Quando entras no carro dás-me aquele teu beijo curto, quente e doce. Mas hoje, depois do jantar, tudo será diferente, não sabes o que te espera. Pergunto-me se será a opção correta, pergunto-me qual será a tua reacção, e quando faço estas perguntas desejava fechar os olhos e ver o futuro para saber se estou a agir da melhor maneira. Entretanto, no meio destes pensamentos, já entraste dentro do carro, fico pasmado… Com a luz do luar ainda ficas mais bonita, e eu a pensar que isso era impossível! Perguntas-me onde vamos e dizes que precisamos de conversar, reparo que os teus olhos mostram preocupação, ou será só cansaço? Tenho reparado que tens trabalhado imenso, que já não dormes as oito horas do teu sono de beleza que tanto adoras… Sim, é um olhar cansado, não vale a pena inventar! Digo-te que vamos jantar fora, fiz uma reserva naquele restaurante italiano que existe na B

(2) Vida Agendada

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Amanhã vou buscar-te à hora de sempre. Desces com os sacos do lixo e fazes-me sinal para esperar uns minutos. Quando entras no carro dás-me aquele teu beijo curto, quente e doce. Arrancamos, mas não para o sítio de sempre. Hoje vai ser diferente, hoje precisa de ser diferente. A rotina já pesa e o amor precisa de lenha por onde arder, certo? A viagem continua e apesar do beijo ser o mesmo, o caminho em nada se parece ao beijo. Existe um estigma no ar, um silêncio pesado que corta as palavras em meias palavras e, assim, ficamos por meias palavras e coisas por dizer. Queria dizer que não gosto da preguiça rotineira em que algo tão intenso se tornou. É intenso, sim. Mas só das 18 às 22 horas de segunda e das 16 às 20 horas de sexta. E hoje, feliz ou infelizmente, é um desses dias. Queria poder dizer-te que não quero ser uma marcação de agenda, não quero ficar entre o relatório do patrão e a manicura. Mas, não seria isso fugir à rotina? Sim, seria. Pois a nossa relação diminui-se a

(1) O último adeus

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Amanhã vou buscar-te à hora de sempre. Desces com os sacos do lixo e fazes-me sinal para esperar uns minutos. Quando entras no carro dás-me aquele teu beijo curto, quente e doce. Sabia lá eu que iria ser a nossa última viagem. Mal entraste no carro vi que estavas com cara de caso. Não ia ser uma viagem fácil. Pus o carro a andar… Passámos pelo jardim do costume, e dissemos adeus à senhora da frutaria, que sempre nos sorriu. Mesmo sem dentes aquela velhota sabia o nosso destino. Ela sabia que era a última vez. Por coincidência, ou não, íamos vestidos de igual modo, camisola azul e calças pretas. O sol estava a pousar no seu sono profundo, a lua já aparecera no céu, um aroma de pão quente pairava no ar, enquanto passávamos pela praça da vila. Seguimos viagem numa estrada com muitas curvas, e quem sabe monstros… A nossa viagem tinha um significado especial. Aquela música que nos uniu tocava sem parar, e os meus lábios trauteavam a letra. Nunca pensei em te beijar já que era errado

Be my voice, write the end!

Como tantas vezes faço, peguei na caneta e escrevi. Escrevi um parágrafo e uma espécie de bloqueio mental fez-me parar por ali. Fiz como de todas as outras vezes que isso me aconteceu: parei de escrever e guardei o papel. Mas, confesso, tinha mesmo vontade de terminar aquele texto. Não me perguntem porquê, mas tinha gostado daquele parágrafo. Nos dias seguintes, bailou na minha mente.  Numa noite quente e desocupada de Verão surgiu em mim uma ideia. Tenho uns quantos amigos que são tão apaixonados por letras como eu e, por isso, pedi-lhes que pegassem naquele meu início e o continuassem, da maneira que achassem melhor. Expectava receber textos completamente diferentes uns dos outros e consegui e devo dizer-vos (aos meus amigos que alinharam na brincadeira) que alguns escrevem ainda melhor do que eu imaginava.  Tenho agora uma pequena coletânea de textos que vou publicar gradualmente. A ordem será aleatória, à exceção do meu, que será o último porque acho que devo ceder os lugares

"No meu tempo..."

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Das sensações mais estranhas que experimento: amar com os olhos e não saber traduzir em palavras. Gostava de vos poder transmitir tudo o que vejo daqui, mas sempre que o digo ou escrevo, não se assemelha àquilo que na realidade é. Vejo as luzes da cidade ao longe, mas é mais que isso; vejo o meu futuro, no meio das luzes de uma cidade que nada terá de igual a esta. Vejo as árvores altas e próximas em frente, mas é mais que isso; vejo as saudades que vou ter da serenidade deste sítio, os lugares que vou ter que deixar. Vejo a minha rua, já aqui, mas esta eu não vou deixar! Trarei sempre comigo o cheiro a Inverno, a terra molhada quando os anjos do céu choram. Levarei as cicatrizes nos joelhos de quando a estrada era revestida a calçada. Recordarei sempre o azul deste céu, que é só dele, e as formas das nuvens que desenhei deitada no terraço de cimento. Não esqueço o balancé de ferro, feito por encomenda, vermelho em tempos, que agora já quase perdeu a cor. Levo tudo, até ao fim