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A mostrar mensagens de março, 2013

Capitão Romance

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Antigamente ainda me mandavas as saudades por correio. Letra redondinha, manuscrita com sabor. E no fim esboçavas um beijo com o teu batom. Um envelope vulgar só para ninguém descobrir. Ninguém podia saber que o carteiro, dentro da sua malinha de cabedal, transportava o teu coração a transbordar de saudades deste outro coração sempre cheio de ti. Era tão bom quando o papel trazia o teu cheiro. Eu conseguia ouvir a tua voz a cada palavra que lia. Conseguia visualizar o teu sorriso ao escrever cada linha… E sorria também. E depois escrevia-te de volta. Transpunha para o papel cada sílaba do meu amor por ti e sabia que o recebias inteiro, intacto e que o guardavas como ninguém. Tinha uma letra feia, nunca me preocupei em aperfeiçoá-la, era algo meu e tu nunca me quiseste subtrair de mim próprio. Acho que era isso que tínhamos de tão inigualável: a capacidade quase inata de respeito pelas características e convicções do outro. Nunca me pediste que mudasse por ti, nem eu p

ficas a marinar...

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Sinto-me como estivesse permanentemente do lado errado da estrada, de uma estrada que tem sempre outro lado… O semáforo está verde para os carros, espero… Carrego no botãozinho. Espero… Fica verde para os peões, atravesso. Bolas, continuo do lado errado, mas como para a frente é que é caminho e as estradas para atravessar não terminam, volto a carregar no botão. Espero… Atravesso! E sinto-me novamente fora do sítio. Nunca estou bem onde estou… Já estive! Agora já não estou… Falta-me o banco de jardim partido que era sempre o mais confortável, podia esperar sentada que o sinal ficasse verde. E, normalmente, até tinha companhia. Hoje não, hoje o lado da estrada é sempre errado, o caminho é sempre o oposto, a companhia quase nunca tarda porque raramente chega e o banco de jardim fugiu… Pouco mais me resta que esperar… Esperar que a Primavera traga os amores-perfeitos plantados no passeio e que o Verão me devolva os sorrisos torrados de sol. 

Diário de Bordo

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Que nada te leve a pensar que a minha frieza é ensaiada ou que mantenho a distância só porque sim. Nunca pensaste que isto pode ser uma máscara? Uma arma de defesa? Nada te impulsiona a ver em mim uma ave frágil, de asas húmidas e que não sabe voar? Eu sei que teimo em fazer-me de forte, insisto em manter esta postura imperturbável, este estado de segurança própria aparentemente impenetrável... Mas eu sou mais que isso! Sou mais que um daqueles parágrafos com palavras complicadas e sentido vago, sou um desenho a carvão, um esboço tosco que, com o toque certo, pode vir a ser algo de valor.  Não gosto das pessoas que se queixam muito de ter tido uma vida difícil, normalmente essas são as pessoas que consideram difícil o facto de não terem namorado há algum tempo ou de os pais não lhe terem oferecido o último grito da tecnologia no Natal passado. Por isso, raramente me queixo. Tento viver com o que tenho, com o que me calhou em sorte (e em trabalho!). Mas a minha armadura de