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A mostrar mensagens de julho, 2009

lágrimas e aplausos

Passei anos e anos na plateia e, de cada vez que tinha de aplaudir, uma lágrima caía. Porquê? Porque não via hora de ser eu a receber aqueles aplausos, porque queria estar em cima daquele palco e chorar de alegria por ter toda aquela gente a vangloriar-me! E em todos os espectáculos esta cena se repetia. Até que um dia, um senhor idoso se chegou perto e perguntou o porquê daquela lágrima. "Gostava de estar ali! Gostava que me reconhecessem pelo meu trabalho e, quem sabe, talento! Queria subir àquele palco e ser aplaudida no final!", respondi-lhe eu. Senti uma daquelas mãos enrugadas a tocar-me o rosto e a secar-me as lágrimas. Em seguida, duma voz meiga, experiente e cansada ouvi "Rapariga, faz-te à vida! Luta! Ou achas que é aqui sentada, a chorar, que cumpres esse sonho?". Sorri-lhe e saí. Durante toda a noite, dei voltas e voltas na cama, sem conseguir dormir, a voz daquele "avôzinho" não me saía da cabeça. Nas semanas seguintes não descansei enquanto

Patetice

Ela chega! E todos se afastam, abrindo um corredor para ela passar! Trazia um vestido azul que beijava o chão. O cabelo solto e selvagem era acarinhado pela suave mas doce odor que, rapidamente, fascinou todos os presentes. Subiu ao palco, a música calou-se. Agarrou o microfone e o silêncio, que já pairava, tornara-se agora mudo. Um BMW amarelo está a travar a minha saída. Pertence a algum dos presentes?

Imprescindível

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Tenho algo muito importante para te dizer. Por favor, não me interrompas, peço-te! No teu primeiro dia de aulas na nossa turma cheguei atrasada, lembras-te? Quando entrei nem reparei em ti e na tua presença singular. Passados alguns minutos o professor pediu que te levantasses para te apresentares e focámos toda a nossa atenção em ti. Nem aí me chamaste a atenção. Parecias tão vulgar! Eras apenas mais um rapaz de cabelo despenteado e calças descaídas. O teu olhar e o teu sorriso escondido pouco diziam sobre ti. Apenas ficámos a saber o teu nome e a tua idade. Pensei ‘Mais um daqueles miúdos chanfrados com a mania que é superior!’. Nem imaginava a barbaridade que estava a dizer. Revelaste-te nas situações mais inesperadas. Tornaste-te o ser o humano mais bonito. Soubeste rir e chorar quando todos esperavam que o fizesses, mas só o fizeste porque sentiste essa necessidade! Admiro-te não pelo teu olhar penetrante, que antes me parecia vazio, nem pelo teu mágico sorriso que no início tei

- sonho

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Tudo aconteceu num sitio que sou incapaz de definir. Começou numa brincadeira que pela ingenuidade se tornou abusiva e chegou até a ser insuportável. É indescritível o desconforto sentido naquele espaço de segundos. O pânico instalou-se em mim, foi incontrolável. Por momentos esqueci-me de que eras tu quem ali estava. Foi impossível travar as minhas mãos que teimavam em magoar-te com toda a força que do fundo me vinha. Quando viste o desespero que de mim se tinha apoderado, paraste. Saíste dali, rapidamente. Um pranto descontrolado dominou-me e pelos vistos a ti também. Ouvi-te gritar chorando, inconsolavelmente. Tive de chegar perto. Abracei-te e pedi-te desculpa. Ele diz - Oh irmã que coisa tão estranha .s Eu digo - Mesmo. Ele diz - Fizemos mal um ao outro .x Eu digo - Mas sem intenção. Tu fizeste-o por brincadeira e eu fi-lo sem noção devido ao pânico.

Mudam-se os tempos...

"aqui, na terra, a fome continua, a miséria, o luto, e outra vez a fome. acendemos cigarros em fogos de napalme e dizemos amor sem saber o que seja. mas fizemos de ti a prova da riqueza, ou talvez da pobreza, e da fome outra vez. e pusemos em ti nem eu sei que desejo de mais alto que nós, e melhor e mais puro. no jornal soletramos, de olhos tensos, maravilhas de espaço e de vertigem: salgados oceanos que circundam ilhas mortas de sede, onde não chove. mas o mundo, astronauta, é boa mesa (e as bombas de napalme são brinquedos), onde come, brincando, só a fome, só a fome, astronauta, só a fome." José Saramago E foi no eco da minha vontade que te tive sem limites. Ali de mãos dadas, cheguei a crer que éramos uma só. Mas na ingenuidade do teu orgulho, desfizeste tudo sem piedade. E agora percebo que nunca mais terá o mesmo impacto. Quem assistir não vai sentir a mesma união, a mesma cor, a mesma vitória que aquela outra gente sentiu quando ainda tudo estava em construção.