(11) De corpo e alma
Amanhã vou buscar-te à hora de
sempre. Desces com os sacos do lixo e fazes-me sinal para esperar uns minutos.
Quando entras no carro dás-me aquele teu beijo curto, quente e doce.
(Fico encantada com esta nova
versão de homem. Deixou de ser mau um homem cuidar de si, cuidar dos filhos,
cuidar da casa… E eu gosto muito disso. Não sei se gostava de ti se cheirasses
a cavalo e comesses com as mãos. Provavelmente não, ou pelo menos não da mesma
forma.
Gosto que sejas elegante e
tenhas boas maneiras. Gosto do teu cavalheirismo. E gosto que gostes de mim,
mesmo quando não tenho as unhas brilhantemente pintadas ou o cabelo
perfeitamente arranjado. Às vezes acho que exijo de ti uma medida que não dou
em troca. Mas depois penso que não, que somos a medida um do outro e que o
somos na medida certa.
Ter dúvidas e incertezas é
cliché, conseguir superá-las com a rapidez com que eu o faço é obra tua. É
feito da tua serenidade e da tua forma de estar na vida, dessa tranquilidade
que emanas e que contagia qualquer um. És sempre a metade cheia do copo.)
Devolvi-te o beijo e puxei-te
para um abraço. Senti-te tão meu naquele instante que quase parecia irreal.
Seguimos caminho. Pé no acelerador, rádio no máximo e aí íamos nós, na nossa
mais livre jornada. Enquanto desafinávamos ao som do Elvis reinventado pela
Aurea (Love me tender, love me sweet, never let me go), senti o travão a falhar-me. E a partir daí tudo se passou em menos de um
segundo. Num momento o carro fugiu, aquela gigantesca árvore apareceu no
caminho e…
Acordei. Não sei quanto tempo
passou. Olho para o lado. Tens a cabeça a sangrar pousada no tablier… Não abres os olhos, não
respondes, não respiras. Foste-te! Tu foste e eu fiquei. Fiquei aqui, fiquei
sem ti. Fiquei. Tu foste-te!
por Catarina Martins
By my voice, write the end!
Comentários
Parabéns, Catarina.
Filipa Teixeira.