Pão na sopa, como antigamente



Hoje cheguei à conclusão que a crise faz mal aos olhos…
Há uns tempos, o meu dinheiro sobrava. Podia ir ao McDonald’s umas quantas vezes no mês, não tinha de trazer comida de casa para os intervalos e não precisava de almoçar todos os dias na cantina, não precisava de usar a mesma roupa do ano passado. Quando ia às compras e pegava em algo mais caro, a minha mãe franzia a testa, mas acabava por comprar com a célebre frase: nos próximos tempos não me peças mais nada. Aquela frase que nunca se concretizava. Meia volta a minha mãe dizia: não sei o que fazer para o jantar, e se fossemos jantar fora? E íamos. Ao sábado, tomávamos o pequeno almoço no café ou, ao domingo, lanchávamos na pastelaria. Sempre que íamos ao shopping trazíamos coisas que não precisávamos, no supermercado as guloseimas saltavam para o carrinho. O aquecimento ligava-se todos os dias mesmo que não estivesse assim tanto frio. E no Verão não dispensávamos o ar condicionado. Não se vivia mal lá em casa. Bem, na verdade não se vive mal lá em casa. Agora vestimos mais umas camadas de roupa quando está frio, ou dormimos de janela aberta quando está calor. Se não pudermos comer bolachas e hambúrgueres, comemos sopa (a sopa não deixa que ninguém morra de fome). Em vez de croissants, comemos pão que é mais barato. Todos os dias trago qualquer coisa para comer na escola e aprendi a gostar da comida do refeitório. Quando vou às compras (coisa muito rara), trago coisas que realmente valem a pena e só se precisar delas. Partilho roupa com a minha irmã e, quando dá, com a minha mãe. Ao fim de semana, fazemos café com leite e tostas mistas e lanchamos todos juntos. Este ano, a minha árvore de Natal não tem notas (como era costume quando eu era miúda e os meus avós tinham bolsos cheios), tem as mesmas luzes de sempre e bolas de vários anos conjugadas. Quando a minha mãe não sabe o que cozinhar para o jantar, improvisa. E sempre que vou tirar fotocópias, ponho várias folhas numa. As letras vêm mais pequeninas e, por isso, tenho de esforçar mais a vista, mas não há-de ser nada. Tudo se resolve!

Comentários

Inês Santos disse…
Nos tempos que correm temos de saber gerir muito bem as coisas. O texto está muito bom. Por vezes temos de nos adaptar!