Novas guerras: check-in

Uma vez li em algum lugar que os aeroportos são o sítio onde mais demonstrações de amor se vêem. Concordei de imediato mas nunca pude compreendê-lo tão bem como há uns dias. Quem parte leva novos sonhos, novas ideias, promessa de novos sítios, novos futuros e, mesmo que vá contrariado, não tem de conviver com a ausência materializada nos sítios onde costumavam estar juntos. 
Noutros tempos, os portos tinham esta função, a de serenata ao luar. Os barcos partiam, levando para a guerra corpos e almas que deixavam cá metade de si. Hoje, os aeroportos têm os postigos que, outrora, tinham os navios. Vêem-se partir, agora em aviões, os nossos para outra guerra - a busca de uma nova vida. Quem fica vê na porta de embarque o portal para o outro mundo. Um mundo desconhecido que absorverá os seus filhos, maridos, mulheres, amigos e amigas. Sim, agora não se trata de uma chamada aos rapazes de dezoito anos. É, antes, uma ida de qualquer um que precise de lutar pela sua vida. 
Quando estava prestes a partir, vi senhoras e senhores, homens e mulheres, meninos e meninas espreitando por janelinhas pouco maiores que as suas cabeças. Nada diziam... com a boca. Os seus olhares transpiravam este mundo e outro tanto. Não conheço o motivo de mais nenhuma partida para além da minha, mas sei que quer vás por dois dias, dois meses ou dois anos, há sempre alguém que espera a tua chegada, continuando a desejar que nunca tivesses ido.



(Setembro de 2014, Neuss, Alemanha)

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