No tempo em que eu usava jardineiras...

Ando outra vez embrenhada nas minhas leituras (sim, houve aí uns tempos em que não tinha vontade nem paciência, até parece mentira, não é?). E voltei a um livro antigo, "A Filha do Capitão", o meu pai ofereceu-mo há uns anos e não consegui lê-lo, na altura fartei-me na terceira página (isto é, se lá tiver chegado). Achava-o demasiado descritivo e tinha a mania que não gostava de livros de época. Entretanto conheci a Manela (a minha professora de português do secundário) que me ensinou a beleza que podem ter as descrições e aprendi também que não é na primeira ou na segunda página que se percebe se gostamos de um livro ou não. Outro dia, na falta de livros novos na estante, fui buscá-lo. E não é que comecei a gostar? Confesso que me entusiasmou mais quando percebi que tinha como cenário a 1ª Grande Guerra e a forma como ela ia sendo trabalhada. Lá vou eu, quase a meio de um livro com a grossura da Bíblia que a minha avó me ofereceu quando era miúda. 
Ontem, algures no meio de um capítulo denominado Flandres, Afonso, uma das personagens principais, em França, mostra O Século com a notícia da aparição da virgem em Fátima (eu sei que este post pode começar a parecer muito beato mas tem a sua razão de ser), com um título que era qualquer coisa como «O sol bailou». Dois segundos e o meu pensamento recuou até às cassetes de VHS. «O dia em que o sol bailou» era o nome da cassete que contava a história dos três pastorinhos. E com esta história estava num pulo em todas as outras, voltei às horas que passei em frente à televisão a ver a Heidi ou a Rua Sésamo, quando a Alexandra Lencastre ainda tinha uma verruga debaixo do nariz, ou a invejar a Ana Brito e Cunha por tudo o que acontecia no Jardim da Celeste. E, para além das cassetes que a minha mãe comprava no quiosque do hospital quando saia do trabalho, havia as cassetes que o meu avô gravava. Horas e horas de Big Show Sic (cujo nome ainda hoje tenho dificuldade em dizer pois para mim sempre foi o "Big Sow Chic") e confesso que o programa de domingo à tarde, da SIC, me lembra constantemente disso. Afinal temos o João Baião aos saltos e bailarinas seminuas. Só falta mesmo o Macaco Adriano. Morria de medo dele, ia tendo um ataque quando, num desfile de Carnaval, ele (ou alguém parecido) me apareceu à frente. 
Tenho alguma pena que essas coisas estejam a desaparecer, não pelos objectos em si, mas por todas as memórias que me trazem. Ver o Marco no Youtube não é a mesma coisa. Era o mesmo que a colecção imensa de livros da Anita que tenho na estante se transformasse num tablet de um dia para o outro. 

Comentários

Andamos demasiado nostálgicas! Como já disse, ainda tivemos sorte na época em que nascemos, fomos a geração do meio-termo!

P.S - Também tenho a coleção dos livros da Anita, embora não esteja completa :(