Dizem que chá de cascas de cebola também é bom

       Pede-lhe que traga a guitarra ou o violino. Bebe chá de perpétuas roxas para que a voz não te falhe. Não te esqueças das flores, rosas vermelhas de paixão. Ensaia. Veste-te a rigor. Tens a morada? Sabes como vir até cá? A minha casa é aquela baixinha de madeira, sabes? Aquela mesmo em frente aos chuveiros da praia.
       Se bem te lembras, a primeira vez que nos vimos, era lá que estavas, a expulsar o sal que o mar colou ao teu corpo e eu ia, de chinela no pé, para a esplanada. O sol estava muito quente e tu bem sabes como eu gosto de gelados... Dia após dia, olhava-te. Comecei por apreciar o teu corpo, é bonito! Mas depois... Já dava por mim, deitada na toalha a imaginar-te ao meu lado, numa conversa envolvida por sorrisos carinhosos. E foi assim que me apaixonei por ti. Tu conheces bem a história. Deixemo-nos de recordações, por agora.
       Estás pronto? Põe pernas ao caminho! Estou no quarto. Quando chegares atira pedrinhas à janela e começa a cantar a nossa música. Certifica-te de que acertas na janela correcta e de que tudo vai correr como planeado. Tenho o roupão no cabide. Assim que te ouvir, vou à janela, deixo que termines, volto para dentro, visto-o e vou ter contigo. Ofereces-me as flores e beijas-me como se não houvesse amanhã.
    
       Sim, isto seria o plano perfeito, não? Mas não será mais saboroso aquilo que surge sem projecto? Não é à toa que estas coisas costumam ser surpresa!

Comentários

Filipa Teixeira disse…
De facto... perde o "açúcar" da coisa...
Não é tão bom quando se vê o espanto, as faces rosadas e o olhar escondido? É maravilhoso!!

Muito bom, Catarina!

Filipa Teixeira.