Rádio Rabisco


Deixando de parte os meus momentos de incredulidade perante o mundo ou as pessoas; afastando aquela pequenina raiva que, por vezes, me consome ao ouvir certos comentários ou decisões; esquecendo, apenas por momentos, a insensatez de crianças presas em corpos de adultos, hoje quero falar de amor.
Mas amor a sério, que nestas coisas gosto pouco de brincadeiras. Não, não vos vou falar de uma ou outra paixoneta de Verão, dos tórridos namoros de adolescentes convencidos de que são pessoas grandes, nem tão pouco do desejo que TODOS nós, num ou noutro momento, vamos sentindo por um outro alguém. Não, nada disso. Hoje, quero falar-vos do meu amor a uma página em branco.

Estranho?! Provavelmente, pelo menos assim, à vista desarmada. Recuso-me a deixar um papel em branco, assim mesmo, em branco. Faço dele o meu palco, da caneta as minhas sabrinas e das frases o meu bailado. Se, há uns anos, me dissessem que umas palavras rascunhadas eram mais do que isso, não acreditava. O impensável começou a desencadear-se quando, soube fazer os meus pózinhos de perlimpimpim, quando comecei a ver, nesse mesmo rascunho, a pauta dos sonhos, onde Mozart divagou, irrepreensívelmente.
Talvez tudo isto pareça um pouco estranho, sem graça ou até sem nexo. Talvez o seja, na verdade. Mas eu consigo encadear as coisas na minha cabeça. Consigo ouvir o timbre da caneta azul que, letra a letra, vai acariciando os segmentos de recta. Pausas ritmadas. Parágrafos entoados em uníssono. Medo de errar, este entoa como campainhas irritantes, penetrando qualquer tímpano. Sabor da vitória. Vitória? Mas o que é que se ganha quando se escreve?
Ganha-se muito mais do que se possa imaginar! Ganhamos o uso da palavra, a resposabilidade de tocar o leitor mesmo que ele sejamos nós mesmos. Não precisamos de agradar, tocar é o essencial. Ser indiferente, não interessa! Mais, ganhamos o desejo de MAIS. Mais letras, mais folhas em branco para as enchermos de conteúdo, mais coisas para ler, mais papéis para recordar, mais personagens para inventar, mais tudo! Desengane-se quem quer da escrita fama e glória. Sem dúvida que ela nos poderá traze-las, mas isso será o bónus e não o objectivo! O sucesso está no amor pela tal página em branco, pois só dessa forma poderemos alcançar a plenitude de, um dia, termos contribuido para a felicidade de alguém no mundo, mesmo que esse alguém sejamos nós!

Comentários

Pat disse…
também eu, cada vez mais!
Jú S disse…
irá chegar pequena :)
adoro este texto, adoro mesmo! concordo tanto com o que escreveste*