Dizem que avós são pais duas vezes...

Quando somos miúdos, sonhamos um dia pintar sem sair do risco. O que não sabemos é que quando isso acontece, já não temos idade para pintar. Benditas Mandalas!





Há coisas em que pensamos a propósito de quase nada, esta é uma delas. Há uns dias, estava eu a fazer um scroll no feed do facebook quando me deparo com uma foto, entre muitas. Mas esta prendeu a minha atenção. Uma rapariga que conheço desde sempre, pouco mais velha que eu, que só não é mais minha amiga porque o tempo determinou que seguíssemos rumos diferentes, mas com ela partilhei a minha infância, os bancos da escola primária, as brincadeiras no recreio... Na foto estava ela, acompanhada da avó (que é praticamente minha vizinha), estava a dar-lhe os parabéns e a declarar que era uma das mulheres da sua vida pois foi ela que a criou. E de repente fez-se um click na minha cabeça e percebi que quando eu entrei para a escola, o raro eram as crianças que tinham andado num infantário, numa creche, numa ama. Comuns eram as que, como eu, desde sempre tinham ficado com as avós enquanto os pais trabalhavam. Quando entrávamos para a escola, já nos conhecíamos, não porque aprendemos juntos a contar até 10 na pré-escola x mas sim porque todas as manhãs nos cruzávamos na traseira da carrinha da padeira, íamos com as avós comprar o pão do dia. Conhecíamo-nos porque brincávamos juntos na rua, porque passávamos pelas casas uns dos outros quando íamos ao minimercado ou acompanhávamos as avós à horta. Conhecíamo-nos num registo diferente. Não tínhamos tablets nem telemóveis mas conhecíamos a textura da terra que se metia nas nossas unhas e quando voltávamos da escola não íamos ver o canal Panda, pegávamos no telefone fixo, digitávamos os números que já sabíamos de cor e perguntávamos: Hoje vens tu para cá ou vou eu para aí? Sempre que faltei à escola por estar doente, à tarde tinha alguém em minha casa com os livros e os cadernos, pronto a explicar-me o que tinha acontecido naquele dia. E ao sábado íamos à catequese todos juntos, a pé e a brincar. 

Comentários

Anónimo disse…
Gostei muito do texto, Catarina! Parabéns! Relembrou-me muitos episódios da minha infância. Infelizmente, a minha infância já se interliga com jogos de Nintendo e todos esses novos avanços no mundo da tecnologia mas, comparada com a dos miúdos agora,foi muito melhor. Pude desfrutar da natureza e dizer que tive uma infância feliz e que não a passei agarrada a um tablet!
Beijinhos grandes!