Olho, tantas vezes, por baixo dessa película fina e transparente, feita de cloreto de sódio hidratado, que desce pelo meu rosto, me lambe os lábios e aprendeu a morrer, sem se queixar, no meu pescoço. Olho, com estas janelas já a arder pela falta da película escorregadia que fugiu. Olho, olho, olho e tantas vezes não vejo!
Olho os sorrisos e não vejo o bem-estar, olho as palmas e não vejo o sucesso, olho os corações e não vejo o amor, olho os beijos e não vejo o carinho, olho os abraços e não vejo a cumplicidade, olho as acções e não vejo a bondade, olho tudo e não vejo nada. Olho e o que vejo é que todo o conteúdo de todas as coisas foi comido por crocodilos mal-cheirosos, que ainda ninguém soube matar! Olho tudo e não vejo nada!
E choro, sim, choro. E não me sinto fraca por isso, choro porque me faz falta a ingenuidade de que era provida há uns anos, choro porque não consigo olhar o amanhã com qualquer certeza. Choro porque aquilo que sinto se reflecte naquilo que sou, na forma como ajo, na minha maneira de ver os outros.
Choro e, por detrás deste mar imenso, há um sorriso prestes a morrer afogado nesta imensidão.

Comentários

Jú S disse…
podes chorar, desde que não deixes que esse sorriso se afogue! *