Trinta Quilómetros



Estás na praia, meio-dia, deitado ao sol. Aquele sol tórrido que te grelha todos os bocadinhos de pele, que queima como braseiro. Achas que estás a sentir a Natureza em todo o seu esplendor, no seu auge. Não estás!
Sabes quando conheces a força da mãe Natura? Quando caminhas durante a noite e sentes a chuva a bater-te na cara, tão fria que serve de anestésico às tuas maçãs do rosto, o nariz pinga, o queixo pinga, a língua lambe os pingos que escorrem nos lábios. O vento esfria os poucos pedaços do teu corpo que ainda se mantinham a uma temperatura agradável. A roupa cola-se à tua pele como que formando um só órgão e, aos poucos, o teu cérebro deixa de processar o frio que sentes, o quão encharcado estás. E, nesse momento, és só tu e ela, a Natureza. E é então que te apercebes do quão avassalador, assustador e mágico é o rugido das árvores que esvoaçam, entrelaçando-se em melodias com o vento. É quando te abstrais da suposta dor física que sentes o fluir dos pingos, na ponta dos teus cabelos, e te delicias com isso.
E é assim, por montes e vales caminhando, desde a aurora ao anoitecer que te deparas com aquilo que, na verdade, é o poder e a força (sem canhões ou bombas nucleares).

Comentários

Lia disse…
já tenho saudades de te ler, ly