Diário de Bordo




Que nada te leve a pensar que a minha frieza é ensaiada ou que mantenho a distância só porque sim. Nunca pensaste que isto pode ser uma máscara? Uma arma de defesa? Nada te impulsiona a ver em mim uma ave frágil, de asas húmidas e que não sabe voar?
Eu sei que teimo em fazer-me de forte, insisto em manter esta postura imperturbável, este estado de segurança própria aparentemente impenetrável... Mas eu sou mais que isso! Sou mais que um daqueles parágrafos com palavras complicadas e sentido vago, sou um desenho a carvão, um esboço tosco que, com o toque certo, pode vir a ser algo de valor. 
Não gosto das pessoas que se queixam muito de ter tido uma vida difícil, normalmente essas são as pessoas que consideram difícil o facto de não terem namorado há algum tempo ou de os pais não lhe terem oferecido o último grito da tecnologia no Natal passado. Por isso, raramente me queixo. Tento viver com o que tenho, com o que me calhou em sorte (e em trabalho!). Mas a minha armadura de ferro começa a pesar-me sobre os ombros, começam a fraquejar-me os joelhos, mais tarde ou mais cedo hei-de cair por terra.
Lamento se causo desilusão aos que sempre me viram como símbolo de força. Dar conselhos é fácil, isso eu sei fazer (e acho que até tenho algum sucesso), difícil é ser psicóloga de mim própria, descobrir o que há por trás daquilo que nunca será dito...
Vê isto como um pedido de desculpas, por todas as vezes em que te afastei ou me afastei. Não é por mal, é só que a armadura já pesa e, de nós as duas, ela é a única que é de ferro.

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