Quinze dias ou três semanas


Agosto é o mês das festas. Agosto é o mês em que as casas fechadas durante todo o ano vêem a luz do dia, através das janelas escancaradas.  Agosto é o mês em que vemos mais carros estrageiros que portugueses. Agosto é o mês em que todos os emigrantes da família estão por cá. Oh, já chegaram! Estão cá quase todos. Devo ser a única pessoa neste país que não tem família em França (ou na França, como dizem as mães idosas cujos filhos partiram além fronteiras). Mas tenho na Alemanha e na Suíça e já tenho amigos em Inglaterra. Outro dia questionava-me sobre o que vou fazer com o meu primeiro ordenado e talvez a resposta seja: poupá-lo o mais possível para começar o pé de meia para as viagens. Tenho imensos destinos de sonho. Mas estes, onde está um pedaço de mim, deixam-me curiosa. Saber como é o seu dia-a-dia, o que se faz por lá, o que os deixa felizes, aquilo de que não gostam. Não estamos a falar de alguém que foi de férias, falamos de alguém que, sem outra alternativa, abandonou a casa onde está o seu coração para ir, tantas vezes sem saber bem fazer o quê, à procura de uma vida melhor. Tantas vezes se goza com os fios de ouro, com as bandeiras de Portugal na parte de trás do carro, com a música alta ou com o sotaque estranho do português que perdurou misturado com a nova língua falada todos os dias. Tantas vezes nos esquecemos que isto é só o orgulho e a saudade a falar. Esquecemo-nos que poucos foram os que partiram por opção, a maior parte foi precisamente por não ter opção. Os tempos estão a voltar e a tornar-se mais semelhantes do que possamos pensar.

Sobra-me uma questão: serei eu a pessoa da família a quem está destinada França?

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