viagens ao ontem

Se vives numa aldeia com cafés e nenhum deles se chama "Ponto de Encontro" ou "Café Central" põe o braço no ar.


Às vezes esforço-me por encontrar memórias da minha infância e não sei delas. Parece que as perdi. Ou que não sei onde as guardei. Lembro-me de uma ou outra coisas soltas e nem lhes sei o contexto. Outras vezes, graças a ninharias que parecem a ponta de um novelo, encontro metros e metros de recordações. E hoje foi um café, perdido no meio da Serra do Caramulo, com o famoso nome de "Ponto de Encontro". 
Oh, o meu "Ponto de Encontro"... A minha mãe trabalha por turnos há anos. Quando eu era miúda, sempre que ela fazia o turno da noite, dormia em casa de uma das minhas avós. Sempre que dormia em casa da minha "avó de lá de cima" (era como eu a distinguia da outra) a minha mãe ia almoçar connosco no dia seguinte. Ainda antes de ela chegar, eu ia ao café.
- Traz um sumo dos grandes, assim dá para as duas e fica para outra vez.
Sempre Sumol e sempre de laranja. Não que fosse particularmente adepta. Mas era o que havia. 
Outra das boas memórias que tenho daquele sítio eram as tardes a pedir "Bolinhos e Bolinhós". Era a minha paragem favorita. Trazíamos os bolsos cheios de guloseimas e, às vezes, uma ou outra moedita. A dona do café, que para mim sempre foi a Celidade, mas na verdade se chama Soledade tinha um carinho enorme por nós, pelos miúdos que, de vez em quando, davam lá uma corrida só para comprar uma pastilha (que na altura ainda custava cinco cêntimos). E eu desenvolvi também um carinho enorme por ela. Acho que foi por isso que fiquei tão triste quando o café fechou. Ela era o meu "Ponto de Encontro". 

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