Manel, exististe mesmo?
Em minha casa não se fala de
mortos. Fala-se de funerais, de x ou y que morreram esta semana, comunicam-se
essas notícias. Mas não se contam histórias do avô Riquito que lançava o pião
(só quando a Nazaré Caldeira se perde nas suas divagações), não sei nada do avô
Alberto que morreu de acidente de mota, nem sei o nome da mulher do bisavô
Manel e por isso minha bisavó, pouco sei do primeiro Facadas da família e as
memórias que tenho da bisavó Cesaltina são poucas ou nenhumas. Ah, dizem-me que
roubava a bengala à Ti Linor (que na verdade se chamava Leonor) e que a Ti
Angelina (que nunca percebi se era da família ou não), quando veio o euro, me
dava vinte cêntimos a pensar que era uma fortuna. E é raro, muito raro, que a
conversa vá mais longe que isso.
Porém, no meio destas pessoas
todas, há uma com a qual tenho uma ligação especial e pela qual me emociono
sempre que conto a nossa história. Esta pessoa é o bisavô Manel, do qual não
tenho nenhuma recordação (daqui a pouco perceberão porquê) e tudo o que sei dele
é que gostava de sardinhas com café e que era muito boa pessoa (dizem que a
minha tia Esmeralda lhe herdou os genes). Este homem foi o segundo pai da minha
mãe (quase primeiro), o homem que a levou ao altar. E já me amava antes de eu
nascer. Em Janeiro de 1994 estava muito doente, no hospital (com qualquer coisa
que também, acho, nunca me contaram). Dizia-se que esperava que eu nascesse
para morrer. E assim foi, no dia 23 acende-se uma vida, no dia 24 apaga-se
outra. Nunca me viu, mas certamente que, no seu coração, sabia que eu também
havia de o amar.
Comentários
Nomeei-te para o Liebster Award! :) http://chamammepequenita.blogspot.pt/2014/12/liebster-award.html#more
Beijinhos... <3