Porta nº 10

Chegaste de forma subtil, sem pré-aviso. Entraste sem bater à porta, limpaste os pés no meu tapete e sentaste-te no meu sofá de pele. Puseste-te à vontade e esperaste que eu desse conta que estavas ali.
Há muito que eu sabia que virias, só não queria acreditar. E, depois, facilemnte percebi que já cá estavas, só não queria dar a entender. Pensei que a minha indiferença te explusasse dali, te fizesse perceber que estavas em propriedade privada, em alma alheia mas tu deixaste-te ficar.
Primeiro isso irritou-me, depois habituei-me à ideia e, por fim, já era eu quem queria que ficasses.
E tu ficaste... Foste ficando e, aos poucos, conheceste os cantos à casa pois tinhas bilhete à borla para todas as divisões.
Um dia, bateste na porta do meu quarto e abriu-se, para ti, aquela que é a entrada para o mais fundo do meu ser, o meu coração.
E foi aí que, de mãos dadas com a esperança, bailaste. Porém bailaste pouco tempo, não eras a cinderela mas o teu relógio tocou a balada da despedida e tu foste-te, ou melhor, avisaste-me que ias, que querias ir mas o meu quarto fechou-te as portas e deixou-te trancado com a esperança, a minha esperança!
Conquanto, tu, fisicamente, saiste! Apanhaste o comboio e mudaste de divisão.
Até ao dia em que foi a esperança que me saiu do peito e te foi buscar, te prendeu por breves minutos e te deixou partir de novo. Chateei-me, não podias ir!
Não queria que batesses com a porta!
A pele do meu sofá, a minha pele, já tem o teu cheiro! Os meus olhos já têm o teu reflexo! Os meus lábios ja têm a tua saliva e a minha lingua já tem o teu sabor! Não vás! Fica comigo e eu prometo dar-te a chave de minha casa, prometo pedir ao meu tapete que dê brilho aos teus sapatos, prometo comprar almofadas novas para tornar o meu sofá mais confortável! Fica comigo e eu prometo que no teu próximo bailado o teu par serei eu!

Comentários

Anónimo disse…
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
Filipa Teixeira disse…
A paixão é como uma sangue-suga, suga-nos toda a sanidade, lucidez, vontade de sermos só para nós próprios, a esperança...

Alimentamos uma única boca, a do coração, cegamos os nossos olhos e só vemos uma única mancha, a única que nos faz querer ser mais, maior e melhor...

Maravilhoso!! Como não havia de deixar de ser, um texto que me apela e me diz muito!!

Beijinhos, Filipa Teixeira.
Anónimo disse…
adorei, escreves muito bem!
Filipa Teixeira disse…
Foi a primeira vez que chorei por alguém que morreu e eu só tinha cinco anos! Custou imenso e ainda custa...

Filipa Teixeira.
Alexandra disse…
adoro carolina (: esta lindo...
sim, sou escuteira e pelos vistos, tu tambem* agrupamento?
beijinho xana*
Alexandra disse…
peço desculpa pelo meu erro :b
1316 - Figueira de Lorvão :D