#03 - COR

Se há um ditado que diz que "O bom filho à casa torna", também há um outro que nos lembra que não revisitemos lugares onde fomos felizes. Nunca fui grande adepta deste segundo. Mas ultimamente, por me ter tornado fã da Raquel Tavares e por ter descoberto esta música, tenho pensado muito nele.
Perdoem-me a presunção, mas não sei se conheço alguém que tenha sido mais apaixonado pela vida académica do que eu. Pela praxe boa e regrada, pelos batismos, pelas famílias, pelas noites de folia, pelas tardes de estudo, pelo companheirismo e pelos grupos de amigos que se tornam mais do que família. Todavia estou cada vez mais desligada de tudo o que me liga a esses tempos pouco longínquos. Vou sendo convidada para praxes e convívios a que decidi deixar de ir e, às vezes, até a camisola de curso me custa vestir. Não que tenha alguma espécie de mágoa. Talvez desligar-me doa menos. Mas não me faz amar menos...
A A. é o meu despertador, o meu puxão para a realidade, a pessoa que meia volta me manda vídeos de tunas, fotos "antigas" e me lembra, com uma ou outra conversa, esses tempos que Coimbra nos deu. Então, o meu peito como que aperta.
Há muita coisa que tenho pena de não ter feito. Tenho pena de nunca ter visto a serenata na primeira fila, tenho pena de nunca ter feito parte de uma tuna, tenho pena de não ter partilhado casa com alguns dos meus colegas, tenho pena de todos os cafés que recusei, tenho pena de todos os dias em que podia ter trajado e decidi não o fazer, tenho pena das praxes a que faltei, tenho pena de não ter conquistado algumas pessoas com aquilo que sabia e que tentei transmitir... E tenho medo, tenho muito medo, de não ter feito um bom trabalho e de não ter honrado aquilo que é o nome da praxe em Coimbra.
Às vezes (como agora), as minhas cordas vocais parecem enlaçar-se e fazer-me um nó na garganta. Não sei justificar. Mas depois lembro-me do meu primeiro traçar de capa, dos batismos das minhas afilhadas, do traçar da capa delas, do que lhes disse, como se fosse hoje (e aposto que elas podiam repeti-lo comigo, em coro), "Aprende a amar a praxe e a respeitar tudo o que Coimbra tiver para te dar", do meu jantar de despedida, do quanto chorei, do quanto ri, de todas as saudades que tinha e tenho e da Coimbra dos doutores e dos amores... E então choro, choro que nem uma maluca, porque estou a voltar ao lugar onde fui feliz.
E apesar desta espécie de dor, que não mata, nem amolenta mas que vive e lembra, hoje eu recordo que numa das minhas primeiras praxes me obrigaram a gritar "AQUI VOU SER FELIZ!" e no quadradinho à frente ponho um visto. Por isso, estou e estarei sempre muito grata pelo negro da capa e batina.









Comentários

Cátia Cardoso disse…
Catarina, não tenhas medo de não teres feito um bom trabalho ou de não teres "honrado aquilo que é o nome da praxe em Coimbra" porque hoje, digo-te, o teu nome continua presente quando se fala em Doutores de referência. E mesmo sem ter presenciado isso, sei que há valores que me chegaram e que vieram de ti. Se sou repleta de orgulhos, em Coimbra, um deles é ainda pertencer à tua família de praxe.
Um grande beijinho, da tua bisneta de praxe :)