Vista Turva
Olá, sou eu… Sim, tu
sabes a que eu me refiro, ao eu que cruzou o olhar contigo de baixo daquela
chuva toda, que pensou durante momentos que serias uma ilusão. Ou provavelmente
és mesmo uma ilusão e eu acabei de ser enganado por um simples velhote… Gostava
que provasses que estou errado… Espero uma resposta tua… Até já!
Ali
estava eu, boquiaberta. Eu ia só confirmar o horário do meu autocarro e eis que
sou surpreendida por isto. Chamem-lhe curiosidade feminina, sexto sentido, o
que quiserem, mas não consegui deixar de ler. E assim que li, não tive a menor
dúvida que era para mim. Mas depois os meus pensamentos ficaram confusos. Sim,
é para mim! Ou talvez não seja. Se calhar não passa de uma brincadeira de
miúdos. Aposto que ele nem me viu. E se não for? Se for a sério? Vou
responder-lhe, que nem tonta, com um bilhete na paragem do autocarro?
Foi
estranho aquele momento em que nos vimos… (Em que eu te vi. Sim, porque até há
um bocado eu tinha dúvidas que me tivesses visto também.). Foi um magnetismo
vindo não sei de onde, que tão depressa nos atraía como nos repelia. E depois o
autocarro levou-me e não pensei mais nisso. Até agora. Que é que eu faço?
Depois
de largos minutos a olhar um papel colado na paragem de autocarro decidi: que
tinha eu a perder afinal? Peguei numa caneta e num papel e debaixo daquele
colei outro que dizia:
Olá desconhecido.
Obrigada por esta mensagem de boas vindas nesta manhã feia e fria. Não, não sou
uma ilusão. Sou de carne, osso, pele e sentimentos. Vergo e às vezes parto.
Confesso que não sei muito bem porque te respondo, mas sei que não podia ser de
outra maneira. Vai ser este o nosso mural? Espero por ti.
Dia
após dia, corria para aquele sítio, ansiava pela resposta. Todavia, o meu
bilhete continuava intocável (na verdade, surpreende-me que ninguém o tenha
arrancado). Nem sinais de ti, nem sinais de mim em ti. Continuo a esperar por
ti…
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