(10) Dias não são dias

Amanhã vou buscar-te à hora de sempre. Desces com os sacos do lixo e fazes-me sinal para esperar uns minutos. Quando entras no carro dás-me aquele teu beijo curto, quente e doce. Levo-te ao café do costume, os mesmos 12 minutos de caminho, a mesma música no rádio, os mesmos risos, perguntas e lamentações. Nesse café, ah esse café, com o lugar ao lado do carro cinzento abandonado sempre à nossa espera, as pessoas já me eram familiares, aquele sumo de pêssego e o vento que corre na janela do canto, sempre aberta resfriando o ar. No final, o mesmo barulho da sucção das palhinhas, o sumo acabou, hora de viajar 12 minutos até ao local onde te deixo, curta, quente e doce a despedida, vejo-te entrar com o vestido longo a esvoaçar com o vento, o cabelo timidamente amarrado pelo puxo vermelho. Ao entrares espero que a luz se apague e sigo o meu caminho, longo, frio e amargo, no silêncio ensurdecedor da música que já não é a mesma. Nasce um novo dia, desces com o saco do lixo, já n...