(2) Iogurte de Pêssego & Memórias de Infância
Sentei-me no sofá. Uma, duas, três colheres de iogurte de pêssego. Já
não estou ali. Fui transportada para o dia em que conheci este sabor.
A minha infância foi revivida
em câmara lenta na minha mente. E depois cheguei ao dia em que a minha mãe
resolveu comprar os tais iogurtes de pêssego tão famosos, aqueles que todos os
santos dias passavam nas publicidades dos canais que víamos. Tanto a chateei,
que acabou por comprá-los. Por mais estranho que isso possa ser, lembro-me que
parecia uma criança com um brinquedo novo, enquanto a única coisa de novo que
havia ali era mesmo o iogurte em si.
E foi então que, sentada no
baloiço já velho que continuava no jardim, abri o iogurte, para contemplar um
conteúdo creme. Levei a colher, pela primeira vez, ao seu interior e retirei um
pouco – poderia não gostar e assim começava por pouco, só para experimentar.
Levei a colher à minha boca, ansiosa por sentir aquele sabor. E foi então que
percebi. Era só o melhor iogurte que já tinha comido na vida. O sabor tão leve,
tão doce, tão à Verão! E a seguir a
essa colher, vieram mais duas, três e muitas mais, até não sobrar mais um
pedaço na embalagem.
E agora, tanto tempo depois,
cá estava eu a saboreá-lo de novo, lembrando também daquele velho baloiço que
continuava perdido e, agora abandonado, no jardim. E o mais fantástico é
sentirmos que, depois de tantas mudanças que vão ocorrendo ao longo de toda a
nossa vida, acabam por existir algumas coisas que nunca hão de mudar. E eu
conheço duas delas: o sabor daquele iogurte de pêssego e as memórias de
infância.
por Inês Martins (blog)
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