(7) Preencher Espaço em Branco Aqui
Sentei-me no sofá. Uma, duas, três colheres de iogurte de pêssego. Já não
estou ali. Fui transportado para o dia em que conheci este sabor. Sabor é a recomendação de hoje. Se procurar nas
minhas recordações os que me deixaram um sabor duradouro, se fizer um balanço
das horas em que me valeram, encontro-me sempre com aquelas que não valeram a
pena. Foram meses perdidos. Até mesmo aqueles minuciosos segundos em que te
tentei pôr um sorriso na cara, no fim não passaram de um tiro no escuro.
Acreditei (e acreditei bem!), que desta vez tudo ia ser diferente, que eras tu
a tal, que eras tu que me ias fazer acreditar novamente. Eras tu! Sussurrei-te
ao ouvido, “fica comigo, és tudo aquilo que preciso”, e por várias vezes me
deixaste crente em ouvir o que seria música para os meus ouvidos. Música essa
que parou de ser cantada, porque carregaste no stop. Desilusão? Outra vez… Faz parte… E às vezes entregamos um
coração inteiro e recebemos um todo estragado. E agora fica o medo. Medo de
carregar no play, medo de procurar,
medo de voltar a acreditar. E isto tudo porque foste aquela lufada de ar
fresco. Tão depressa apareceste, como te foste embora e deixaste o rasto de
estragos para trás. Para variar, fiz-me de forte. Por mais que o faça sinto
sempre a insatisfação, o vazio interior a transformar-se na busca contínua de
novos relacionamentos, cujos resultados frustrantes se repetirão. Hoje começo lentamente a dar muito mais
valor a pequenas coisas e vejo a vida de um modo diferente. Coisas como chegar a casa e não me
sentir vazio, num dia, são um grande progresso. Chega o dia em que reparo que
estou mais calmo e tranquilo. Já não vejo só a tragédia, olho para o desgosto
com um olhar diferente. Aprendi a conjugar o verbo “sofrer” melhor que ninguém.
Mas aprendi ainda melhor a conjugar o verbo “se não resultou, não era o melhor
para mim”. Ainda hoje penso que com a perda, ganhamos a oportunidade de
conhecermos alguém melhor. Mas rio-me às gargalhadas só de pensar que tu um dia
te vais arrepender profundamente e não te vou permitir o retorno.
Algo mil vezes melhor, virá. Até lá aproveita a melhor profissão do mundo - ser solteiro.
Algo mil vezes melhor, virá. Até lá aproveita a melhor profissão do mundo - ser solteiro.
por Bruno Carvalho
fusing_brains
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