(9) Lábios Sabor de Pêssego
Sentei-me no sofá. Uma, duas, três colheres de iogurte de pêssego. Já
não estou ali. Fui transportada para o dia em que conheci este sabor.
Estávamos sentados no sofá de
minha casa. O crepitar do fogo na lareira, a chuva lá fora, nós enroscados numa
manta. Disseste que tinhas trazido algo para eu provar. Levantaste-te e tiraste
do saco que trouxeste dois iogurtes de pêssego. Ri-me. “Porque é que trouxeste
dois iogurtes?” – perguntei-te. “Sabes que também tenho iogurtes cá em casa, não
sabes? E além disso, está demasiado frio e só me apetece um leite quente”.
Insististe mas eu não quis. Dizias que nunca tinha comido daquele sabor e que
eram mesmo bons. Eras teimoso e ficaste chateado só porque eu não quis provar.
Comeste o teu. Quando a birra te passou e me beijaste, senti o sabor do
iogurte. “Hmmm, sabes a pêssego.” Quis comer o iogurte e não deixaste porque
não provei quando quiseste. Fiquei amuada. Éramos cão e gato. Mas não nas
coisas importantes, só nas banais. Agora já não estás comigo. E deixa-me que te
diga, é a primeira vez que como este iogurte e não é tão bom como dizias, o
sabor dele nos teus lábios era mil vezes melhor.
Hoje os dias voltaram a ser
frios e chuvosos mas já não o são ao teu lado, já não estamos enroscados na manta
e já não sinto os teus lábios sabor de pêssego.
por Alexandra Monteiro (blog)
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