(6) Puro Sabor
Sentei-me no sofá. Uma, duas, três colheres de iogurte de pêssego. Já
não estou ali. Fui transportada para o dia em que conheci este sabor.
Gosto de me perder em mim
própria quando como iogurtes. É o mesmo quando estou no banho: surgem as
melhores ideias e faço os pensamentos mais complexos do dia. Fiquei ali a
saborear o iogurte como se fosse a primeira vez. Passou-me tudo pela cabeça: o
que fui, o que sou e o que serei daqui a uns anos. As saudades da infância
apertaram…era tudo tão mais simples. Estava a pensar nas coisas que fazia em
miúda e que nunca mais fiz. Haverá idade limite para andar de baloiço? Não me
parece…é certo…mas também nunca mais andei. E também nunca mais me lambuzei
como fazia enquanto comia gelados. Tinha sempre a resposta na ponta da língua:
“A máquina lava” - lambuzei-me até ao fim do iogurte.
Penso mais no passado e no
futuro que no presente. O presente é chato. Tenho sempre imensas coisas para
fazer e normalmente nem tenho tempo para saborear iogurtes. Sentia falta deste
tempo só meu, deste teletransporte bom, onde recordo os sabores do passado.
Fico a pensar quando será a próxima vez que vou conhecer novos sabores e ter
recordações deles. O futuro trará novos sabores ou ficarei presa aos do
passado? Nunca um iogurte de pêssego me fez pensar tanto.
por Marisa Ventura (blog)
fusing_brains
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