Dia 11 - SUSPIRAR

 Suspirar: lamentar, ter saudades de.

Tenho saudades de estudar, não dos meus tempos de estudante (quer dizer, disso também mas não é a isso que me refiro). Saudades das mil fotocópias, da odisseia dos sublinhadores, das horas na biblioteca. Parece estúpido, eu sei, mas a verdade é que foi o que fiz nos últimos quinze anos da minha vida e não sabia o que era viver sem isso. Queixei-me muitas vezes e o mais provável é que, se voltasse, tornasse a queixar-me. Todavia, sinto falta  de ter alguém preocupado em ensinar-me alguma coisa (ainda que no momento pensasse que aquilo nunca me serviria para nada), de procurar nos livros complementos a tudo o que já ouvi, de pintalgar os meus apontamentos, de fazer resumos e no fim achar sempre que continuo a saber o mesmo (ainda que nunca fosse bem assim). Continuo a ler, é verdade, mas é diferente. Ainda que leia sobre temas que importam, que me interessam, que me sejam úteis e que isso possa ser considerado estudo, não há a pressão da avaliação, do rigor, do saber para mostrar a outrem que sei.
Sempre fui boa aluna, não me posso queixar. E a verdade é que até ao 7º ano, o que ouvia nas aulas chegava-me, mal sabia o que era estudar. Ter um teste surpresa ou saber com dois meses de antecedência, até essa altura era absolutamente indiferente. Quando tive de começar, custou-me, não sabia como fazer. Depois, por ter escolhido um percurso científico, percebi que o meu estudo passava pelo raciocínio, por perceber a lógica das coisas e dumas, depreender outras. Dei-me bem. O pior veio depois, quando no ensino superior optei por um curso de letras, um curso em que a capacidade de raciocínio é menos importante do que a capacidade de decorar coisas. Sim, havia cadeiras que não se faziam de outra forma que não decorando. Fiquei desorientada. Aos poucos, fui adaptando o meu método e não posso dizer que me tenha corrido mal de todo. Seja qual for a forma usada para o fazer, aprendi a estudar e tomei-lhe o gosto.
Agora estou numa nova fase, a fase do trabalho. Não é uma frase que me desagrade, por me sentir útil e por me sentir, de alguma forma, independente, capaz de subsistir. Agrada-me esta nova fase, mas falham-me os livros, as aulas. Já sei que estamos sempre a tempo de voltar, mas o difícil vai ser encontrar o equilíbrio…
Somos permanentes insatisfeitos, temos sempre vontade de encontrar o melhor de dois mundos. Umas vezes somos capazes, outras não. Umas vezes vale a pena, outras não. Por enquanto, eu vou vivendo deste lado, mas sempre perto da raia, nunca sabe quando é o momento de voltar ao outro lado. Hoje é dia de equilibrar.

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