Dia 2 - TOLERAR

Tolerar: consentir, permitir, deixar passar.

Já largaste o copo? Isso significa que deixaste de pensar nos dissabores que te atormentavam. Mas esquecer não é perdoar.
Sofro de um problema grave e escuro que me persegue há anos, chama-se lista negra. Não é algo que eu cultive, que faça questão de manter ou que tenha algum dia tido ideia de criar, mas é algo que me acompanha e que eu acho que é quase inato. Conheço poucas pessoas que tenham estado na minha lista negra e algum dia tenham saído de lá, aliás, agora que penso nisso, conheço apenas uma. Saiu e passados poucos meses voltou. Não sou de grandes rancores nem vinganças mas também não sou de perdões fáceis. Reconheço quando erro e sei que se todos fossem como eu, estaria na lista negra de umas quantas pessoas. Quanto à minha, não sei como apagá-la. Não sei como voltar a ver do mesmo jeito alguém que para mim não é a mesma pessoa. Todos nós, inevitavelmente, criamos uma imagem de cada pessoa que conhecemos, uma imagem que está sempre em mutação, que se vai ampliando e diversificando consoante os traços que a pessoa nos vai mostrando. É esta imagem que nos faz gostar ou não de alguém. Problema: às vezes num só momento há uma atitude que nos faz virar a imagem do avesso e aí percebemos que afinal não gostamos dessa pessoa, gostávamos era da outra. Eu coleciono essas. Guardo-as sem querer na memória e não deixo nunca que a imagem volte a desdobrar-se, não é que não queira, é que não consigo. Se gosto que assim seja? Nem por isso. Mas aprendi a viver com isso, aprendi a contornar isso. Quando sinto uma discussão a acender, afasto-me e espero que a cabeça esfrie, talvez assim não cheguemos a vias de facto, deixemos o negro e fiquemos só no cinza, é reversível.
Sou normalmente uma pessoa de extremos, preto ou branco, e estou a tentar que hajam mais cinzas na minha vida (juro que não sou fã de “As 50 sombras de Grey”), porque as pessoas não são só sim ou sopas, há as pessoas-mais-ou-menos, as pessoas-talvez e não são menos pessoas por isso, são apenas pessoas que não são as mais adequadas para todos os patamares da minha vida mas que certamente o serão para outros. Não temos de gostar de toda a gente, pois não? Mas temos obrigação de ser educados e a qualquer pessoa devemos respeito.

Talvez a melhor parte das brigas seja o momento em que fazemos as pazes. “Ah e tal porque aprendi muito, daqui tirei muitas lições, não vai voltar a acontecer.” pois claro, só se fosses estúpido! Mas o bom mesmo é aquele abraço, aquele beijo, aquele sexo de reconciliação (não se armem em puritanos, pensamos todos assim!). Se vale a pena chatearmo-nos para nos reconciliarmos? Vale a pena sentir dor para depois sentir o alivio de a dor ter passado? É a mesma coisa, melhor do que ficar bem, é sempre ter estado bem.  Mas quando assim não é possível, às vezes é preciso dar o braço a torcer. Se a tua vontade de ter alguém de volta for maior do que o teu orgulho, parabéns. Hoje é dia de torcer os braços. 

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