Dia 7 - ACOMPANHAR
Acompanhar:
seguir a mesma direção que outro.
Acho
que sempre fui uma pessoa sociável, tenho alguma facilidade em conhecer
pessoas apesar de sempre ter sido
envergonhada. Acho que a idade me foi dando defesas para combater essa timidez,
o riso fácil ajuda na criação da empatia e ela é o primeiro passo para
estabelecer uma relação. Não me tenho dado mal. Demoro a dar confiança às
pessoas mas quando estabeleço uma relação com elas, ninguém me tem pela metade.
Sou
uma pessoa de pessoas, estou sempre a dizer, sou mesmo. Se mudo de escola, de
grupo, de cidade, aquilo que me prende são as pessoas, o que me faz sentir
saudades são as pessoas e o que me vai (re)alimentando são as novas pessoas.
Não sou a melhor pessoa do mundo para trabalhar em equipa, reconheço que a
exigência que ponho em mim e nos outros está muitas vezes acima da média e
quando as coisas me fogem do controlo fico desorientada e muitas vezes
insuportável, mas não saberia viver sozinha no mundo. Não seria capaz de
emigrar sozinha, não seria sequer capaz
de viajar sozinha. Preciso de pessoas, preciso de pessoas que me dêem chão e
preciso de falar, preciso muito de falar. As experiências no estrangeiro sempre
me assustaram imenso pela barreira da língua. Sim, hoje em dia toda a gente
fala inglês, há sempre uma maneira de te entenderem. Não digo que não, mas e os
maneirismos, os trejeitos na voz que só sabemos fazer na nossa língua, as
expressões faciais que eu adoro e que tanto contribuem para as conversas e que
não consigo fazer enquanto falo outras línguas porque estou demasiado ocupada a
pensar em português, traduzir mentalmente para inglês, pronunciá-lo da forma
certa e não parecer uma miúda de cinco anos que junta as sílabas enquanto lê a
sua primeira frase. Preciso de contacto. Preciso de sorrisos doces e preciso,
sobretudo, de olhares conhecidos.
Quase
sempre andei de peito feito e cabeça levantada mas essa confiança não é
intrínseca e por baixo dela há todo um historial de asas quebradas e passos mal
dados. Tirarem-me as pessoas é tirarem-me o tapete. Quem nunca, ao toque do
despertador, arredou os cobertores, sentou na cama e pousou os pés fora do
tapete? Esse frio que toca os nossos pés acabados de sair do conforto gela-nos
os ossos e arrepia-nos aquele pedaço de pele que não sabemos bem se é pescoço
ou nuca. É desconfortável e não nos deixa começar bem o dia . É por isso que
preciso de pessoas que me aqueçam a alma e o coração, pessoas que sejam o meu
tapete. Hoje é dia de aquecer os pés.
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