Dia 12 - ABENÇOAR
Abençoar:
tornar feliz, bem-fadar.
Os
irmãos são bichos estranhos. Fazem parte de nós mas irritam-nos. Entram-nos no
armário, no quarto e na vida sem pedir autorização. Lembram-nos que temos
responsabilidade sobre eles mas que não mandamos neles, o que significa que se
se meterem em alhadas, temos obrigação de os irmos buscar mas não podemos tirar
qualquer proveito disso. São as melhores pessoas para fazer apostas porque os
conhecemos suficientemente bem para contornar o resultado e ganhar sempre. Em
certas idades, conseguimos deles o que queremos, noutras somos amargamente
chantageados por eles. Podem ser os maiores cúmplices ou os maiores bufos.
Podem arcar com as nossas culpas ou arranjarem maneira de levarmos no lombo por
algo que foram eles que fizeram. Comem-nos as bolachas e as gomas que eram para
dividir. Acabam com o papel higiénico e não repõem com um novo rolo. Têm sempre
um balde de pipocas pronto a comer para quando se der o caso de nos espalharmos
ao comprido, quer seja literalmente, nos estudos ou na vida. Não nos desejam
mal mas têm o gostinho especial de nos gozar quando falhamos. É raro darem-nos
os parabéns por algo de bom que fizemos (quando isso acontecer significa que um
de vocês é adulto e a coisa ficou demasiado séria). São capazes de enfrentar
rufias para nos defender (e nós a eles) mas nunca poderemos saber, é o orgulho
de irmão que está em causa. Talvez a máxima seja: só eu posso gozar contigo!
Creio que depois de ambos passarem a idade do armário, da estupidez e das
borbulhas, podem ser os melhores amigos.
Os
irmãos são bichos estranhos. Sobretudo porque gostamos quase tanto deles como
de nós próprios. São aquelas pessoas a quem demos e de quem levámos um ou dois
tabefes mas a quem não concebemos que seja feito algum mal. Morremos de medo
disso. Temos muito orgulho neles e nas coisas que conquistam, mas não é algo
que digamos a troco de nada. Vamos sempre achar que são os melhores do mundo e
vamos sempre dizer-lhes que são os piores do mundo.
Quando
tiver filhos, quero que sejam irmãos à séria, daqueles que se arrepelam, que
discutem, que roubam os brinquedos um ao outro por maldade, que se escondem
atrás da porta para se assustarem, mas que depois se unem em segredo para me
fazer surpresas. Daqueles que se protegem e se abraçam quando um deles tem medo
do escuro ou de um cão que vai a passar. Quero que sejam daqueles que se amam
desmesuradamente mas que só eles saibam disso (eles e eu!).
Porque
ter um irmão é ter uma parte da nossa alma noutro corpo, é ter constantemente
um coração nas mãos que teme pelo bem estar de outro alguém, ter um irmão é
saber que a implicância, também é uma forma de amor. Hoje é dia de me (re)encontrar.
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