Dia 16 - SABOREAR

Saborear: tomar o gosto a, entregar-se com prazer a.

Não sou fã de passas, não sou fã de frutos secos na sua generalidade. Acho alguma piada a pinhões mas recuso-me a comprá-los a preço de ouro. Gostava era quando ia com os meus avós apanhar pinhas para a lareira ou para o forno de lenha e nos sentávamos a comer pinhões, depois de partidos com a primeira pedra que viesse à mão. Tenho grandes recordações, brincadeiras de miúda, debaixo da nogueira dos meus avós. A nogueira que acaba por ser um marco no terreno, há a horta que está abaixo e a que está acima da nogueira. Mas não consigo comer nozes, cortam-me a língua (bem como o ananás, as batatas fritas de pacote, os orégãos, o tomate, o fígado… É, sou um bocado sensível!). Passas deve ser o único fruto seco que me obrigo a comer. Nas broínhas – há muitos anos que, lá em casa, as broínhas são feitas com frutos secos porque há quem abomine frutas cristalizadas – e na passagem de ano.
Não me considero especialmente supersticiosa mas há coisas que me recuso a deixar passar. Bato três vezes na madeira e digo “Que o diabo seja cego, surdo e mudo” quando se fala ou penso em qualquer coisa muito má ou que eu não quero mesmo que aconteça e como doze passas na passagem de ano. Antigamente comia uma de cada vez, para ter tempo de pedir os desejos todos, mas entretanto entrávamos na azáfama dos brindes, dos abraços, dos “Bom ano!” e “Feliz ano novo” e, das duas uma, ou estava num canto ainda a escolher o desejo que atribuía a cada passa ou então desistia a meio. Tive de arranjar uma solução, decidi que ia passar a pedir só um desejo, considerei que se cada passa tinha força para um desejo, então se eu pedisse só um com doze passas a possibilidade da concretização subia consideravelmente. É isso que tenho feito, ainda que quando estou a mastigar as passas haja sempre o pensamento de: ah, também quero isto, e isto… Mas não me prendo com o facto de escolher doze desejos, muito menos de pensar neles, um de cada vez, a cada passa. Também não sei se acredito naquela coisa de não podermos dizer o nosso desejo a ninguém.

Acho que pedir desejos apenas nos deixa mais conscientes das missões que queremos cumprir e nos deixa mais alerta para as oportunidades que surjam. Este ano, queria escolher os meus doze desejos com antecedência, atribuir cada um a um mês do ano, fazer as coisas como deve ser, estão a perceber? Ainda não decidi se o farei ou não. Questiono-me se devemos pedir desejos realistas ou se devemos aproveitar para abusar. Não sei. Vou pensar no assunto, ainda tenho quinze dias (oh, como dezembro já vai longo e nada de frio, nada de neve!). De qualquer forma, há uma nota importante a tomar, quer peçamos doze desejos ou apenas um, a missão é ser feliz, os projetos são para abraçar e como alguém me disse: faz o bem que o resto vem. Hoje é dia de escolher.

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