Dia 5 - IR

Ir: encaminhar-se, mover-se, andar.

Acho que nunca conheci ninguém que tivesse tanto medo da morte como eu. Ao ponto de ter passado uma fase em que não era capaz de usar o verbo morrer, nem suportava que falassem de cemitérios à minha beira. Aos poucos fui começando a lidar menos mal com este lado mundano da morte. Mas o medo, esse, permanece.  E nem sei bem do que tenho medo. Acho que não é do que acontece depois, raramente penso nisso. Uma vez encontrei uma frase de José Saramago que dizia “O mundo é tão bonito e eu tenho tanta pena de morrer.”, acho desde então que é uma frase que se adequa na perfeição à minha postura. Sou uma apaixonada incurável, apaixono-me pelos projetos em que acredito, por pessoas felizes, por sorrisos gratos, apaixono-me por paisagens, por gestos. E acho que é esta paixão desmesurada pela vida que me faz temer tanto a morte. Sei que é um ciclo, que vai acontecer. Mas o meu lado emocional ganha sempre ao racional.
Claro que me custa pensar na morte dos meus, claro que sei que vai ser aterrador, claro que me vai doer como nenhuma outra coisa doeu, mas o sentimento é diferente. Quando penso na minha morte o que sinto é medo, é quase desespero, é daquelas coisas que me faz bater na madeira e chegar ao quase ridículo de “não falemos disto, para não agoirar”. 
Se calhar é por isto que me agarro à vida com unhas e dentes, que nunca me dou pela metade, que me mando de cabeça e que vivo tudo o que tenho para viver em cada coisa que me aparece. Aprendi a dizer sim aos desafios, a não me deixar amedrontar pelo desconhecido e apesar de a consciência ser essencial, a irreverência dá um gozo extraordinário.
Pois bem, se te desafiarem para um passeio de bicicleta, um mergulho no rio, uma viagem ao Japão, uma travessia do Mar Morto, um cruzeiro nas Canárias, uma ida à lua  ou um café ao final da tarde, diz sempre que sim. Mesmo se não conseguirem chegar ao objetivo, o caminho será extraordinário. E sempre que achares que te falta demasiado, que não vais aguentar, que é tempo para o lixo, em vez de olhares para a frente, olha para trás e vê o que já fizeste, todos os quilómetros que já palmilhaste e os decibéis gastos em gargalhadas. Efetivamente, qualquer dia é um bom dia para iniciares a viagem da tua vida. Hoje é dia de comprar bilhete.

Comentários