Dia 6 - PONDERAR

Ponderar:  apreciar com madureza, considerar, meditar.

O banho é uma rotina para todos (esperemos!) desde sempre. Umas vezes rápido, outras vezes demorado, umas vezes duche, outras vezes de banheira, umas vezes de água quente, outras de água fria. Quase podemos dividir a nossa vida em fases pelos diferentes banhos que fomos tomando. Primeiro numa banheira pequena e acompanhados pelos pais. Depois passámos para a banheira dos grandes, muitos de nós  enfrentaram o medo terrível do chuveiro. A vitória de tomarmos banho sozinhos. O à vontade para cantar no duche. A capacidade de descobrirmos como o nosso corpo vai mudando. Na adolescência, o duche é o melhor sítio para chorar. Mas transversal e invariavelmente, o duche é o melhor sítio para pensar e creio que não fosse isso e a maioria das pessoas demoraria metade do tempo que demora.
Já tive discussões imaginárias, já engendrei respostas que devia ter dado e não dei, já “escrevi” a letra de uma música (difícil foi lembrar-me quando saí de lá), já tomei decisões, já me convenci a mim própria usando argumentos que não eram meus… Sim, o meu interior tem grandes discussões consigo próprio durante o meu banho. Sabem quando nos desenhos animados aparecem um anjo e um diabo nos ombros das personagens? Os meus devem andar sempre de fato de mergulho e bóia. Conheço alguém que diz que se caminhamos de colete refletor é para facilitar o pensamento, pois eu nunca precisei de um para que o meu banho se tornasse um tribunal de pensamentos e ações, meus e alheios. A maturidade está a trazer-me a sensatez de não dizer tudo o que penso. Continuo a ser sincera e frontal mas se aquilo que vamos dizer nada acrescenta, então mais vale que fiquemos calados. A água do meu banho leva pelo ralo maus pensamentos, palavras inapropriadas e a quentura das discussões e das decisões mal tomadas. Estranho que a água quente nos esfrie as ideias.

Há quem diga que os melhores conselhos são ouvidos com a cabeça pousada numa almofada. Acho que os meus saem do chuveiro, vêm no estado líquido, lavam-me o corpo e alma e levam para o esgoto as más intenções,  as más opções e as dúvidas. Às vezes, o melhor amigo com quem podemos falar somos nós próprios, só nós nos conhecemos como ninguém, ouvimos o que não queremos dizer e censuramos qb as atitudes menos acertadas. Para estas conversas, qualquer momento é bom, mas o banho é o melhor de todos, porque enquanto a água corre, a nossa cabeça abranda. Hoje é dia de deixar a água correr. 

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