Dia 14 - AUMENTAR

Aumentar: tornar maior, crescer.

Há quem diga que duas pessoas são íntimas quando conseguem ir à casa de banho na frente um do outro. Mas intimidade é outra coisa. Intimidade é quando duas pessoas se olham e percebem se estão bem ou não. Intimidade é a pessoa ler nas tuas palavras e nos teus gestos aquilo que tu pensas, saber a tua opinião antes de tu a exprimires porque te conhece como ninguém. Quando atingimos o limite da intimidade? Não sei. Não sei sequer se haverá um limite, porém despir um corpo é fácil, o difícil é confiar uma alma nua. A pessoa com quem tens mais intimidade é aquela a quem te revelas sem máscaras e sem medos, é a pessoa com quem partilhas tudo o que fazes, mas mais, com quem partilhas tudo o que és. Feliz serás quando disseres que não és a pessoa que te conhece melhor. Quando alguém te conhecer melhor do que tu próprio, pois se calhar, chegaste ao auge da intimidade. E, melhor ainda, se essa pessoa se mantiver apesar de todas as fraquezas que te conhece, de saber de forma transparente o que tu pensas, então encontraste  uma das pessoas da tua vida!  Sim, não acredito que haja apenas uma pessoa da vida da outra. As pessoas ligam esta expressão ao amor, só ao amor, mas e a amizade? Não é uma forma de amor? E o amor incondicional que a nossa família nos tem? Não faz deles pessoas da nossa vida?
Gostar só não chega, nunca chegou. Para seres pessoa da vida de alguém ou para manteres alguém que crês ser uma pessoa da tua vida, é preciso trabalho, é preciso suporte, é preciso seres tu, sem rodeios e saber ver quem é o outro. 
Conhecer alguém é o primeiro passo. Lembro que conhecer é diferente de saber quem é. Sempre fiz essa distinção. Em distinções talvez só tenha falhado numa: distinguir amigos de colegas. Confundi-os durante muito tempo. Achei que uns podiam ser outros e, na verdade, podem. Só não é uma relação direta. Nem todos os colegas se transformam em amigos. Com alguns temos relação apenas por força das circunstâncias e quando estas deixarem de estar a favor, a amizade que nunca existiu desaparece. Criar empatia com alguém é saudável, só não podemos achar que isso trará inevitavelmente uma amizade.

Agarrarmo-nos a pessoas que  não estão presentes (ainda que o estejam fisicamente), que não são inteiras (mesmo que no corpo não lhes falte nada) e de quem não sabemos o que esperar é dar um passo desnecessário em falso, é pôr-se a jeito e a vida gosta tanto de pessoas que se põem a jeito. O oftalmologista serve para ajudar pessoas que não vêm bem dos olhos, difícil é curar quem vê mal com o coração. Hoje é dia de marcar consulta. 

Comentários

Laura Ferreira disse…
Uma vez escrevi um texto que se chamava "o olhar da familiaridade".
vou ver se o encontro para to mandar.
(arre, miúda, que pensas parecido comigo...)