Dia 20 - ESCALAR

Escalar: galgar, trepar.

Há quem ache que olhar para a frente é sempre melhor do que olhar para trás. Tenho de concordar, mas não sempre, só às vezes. Hoje ouvi uma frase que me provou isso mesmo: “Em vez de achares que és a mais fraca dos que cá estão, lembra-te que és a mais forte dos que já foram.”. E talvez a máxima seja exatamente esta, quando faltar muito caminho, olhar para trás e ver o que fomos capazes de fazer.
Sou escuteira, já devo tê-lo mencionado “um cento de vezes” (esta é uma expressão que a minha avó usa e a que eu acho uma certa piada). E sou muito apaixonada por tudo aquilo que o escutismo me dá. Estas máximas de que falei são mais do que aplicáveis. Lembro-me de um momento específico. Uma noite saímos para aquilo que achávamos ser mais uma atividade. Esperávamos um grau de dificuldade normal, nada que já não tivéssemos feito e apesar de cada uma ser única, às vezes esperamos pouco. As temperaturas eram baixas, frio de fevereiro. Rumámos à Aldeia das Dez. E com uma carta militar na mão fomos “lançados aos bichos”, mais uma vez, nada de novo. Começámos a subir a serra e o nevoeiro instalou-se de um jeito que eu ainda não tinha visto. A visibilidade não passava de um palmo à frente do nariz, que batia no chão devido à inclinação do terreno. O frio, o cansaço, o desafio. As vozes agoirentas, as dificuldades. Às vezes pergunto-me se não teria doído mais ainda se não houvesse nevoeiro, se víssemos nitidamente o cume, lá tão longe. Serra acima, a luta contra as dores nas articulações, o frio, as quebras de tensão, de açúcar e outra vez o frio. Quando chegámos ao final eu fiz o que nunca antes fora capaz, corri para a “meta”, foi o meu sprint final. A noite passou, muito ou pouco confortável, não importa. Quando acordámos o sol já sorria, alto e esplendoroso. Ao fundo o cume da Serra da Estrela, cheio de neve. Ao lado uma vista fabulosa, que não veríamos se não tivéssemos insistido na noite anterior. Para o pequeno almoço, pão duro para amolecer corações.
Seguimos caminho e quando parámos para comer, olhámos para trás , apenas um pensamento nos assolou: se víssemos daqui, jamais diríamos que alguém poderia ir lá a pé e afinal estivemos lá…

O bom de nos desafiarmos é que todos os dias podemos ser heróis. Hoje é dia de bater dentes.

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